FOLHA DE SP - 24/10
De agosto de 2011, quando iniciou o ciclo de afrouxamento monetário, até julho de 2012, o Banco Central prometeu entregar a inflação na meta, garantindo que as medidas de política monetária foram tomadas com tal objetivo em mente.
Por exemplo, na ata do Copom referente à reunião realizada nos dias 10 e 11 de julho deste ano, o comitê afirmava que "as decisões futuras de política monetária serão tomadas (...) com vistas a assegurar a convergência tempestiva da inflação à trajetória de metas".
Mais recentemente, porém, o comitê recuou de sua promessa original e passou a afirmar que "a inflação (...) tende a se deslocar na direção da trajetória de metas, ainda que de forma não linear".
Não bastasse, pois, o Copom confessar-se incapaz de atingir a meta, deixa também de se comprometer com qualquer trajetória de convergência (o que, diabos, significa "não linear"?) e, mais grave, não sinaliza um horizonte de tempo no qual os agentes privados possam contar com uma inflação compatível com a determinada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional).
De fato, as projeções de inflação para 2012, 2013 e 2014 (até o terceiro trimestre), conforme o Relatório de Inflação (RI) de setembro de 2012, mantêm-se acima de 4,5%.
O próprio Banco Central, portanto, não consegue precisar o tempo necessário para trazer a inflação de volta à meta, por mais que professe arraigada fé na "convergência não linear".
Em meio a tamanha incerteza, não falta quem se pergunte qual seria a verdadeira meta de inflação. Falta, isso sim, qualquer pista mais sólida sobre o tema na comunicação usual do Copom, exceto que certamente não mais se trata do número oficial.
Há indicações em relatos da imprensa, segundo os quais o Banco Central tem argumentado que o
IPCA registrou variação inferior a 5,2% em apenas 3 dos 13 anos de vigência do atual regime (em 2006, 2007 e 2009). Note-se que 5,2% é valor que o último RI projetava para a inflação em 2012.
Parece, portanto, que o comitê confessa mais uma derrota e se contenta com uma inflação em torno desse valor e talvez mesmo um pouco a mais, já que os mais recentes resultados sugerem uma elevação média de preços mais próxima a 5,5% neste ano, novamente surpreendendo as projeções oficiais.
É interessante comparar a atual posição do Copom, que persegue de forma (mal) disfarçada uma meta de inflação mais elevada do que a determinada pelo CMN, com a adotada em 2004, quando o BC declarou publicamente ter alongado o período de convergência.
Naquele momento foi anunciado um objetivo intermediário (5,1%) para 2005, assim como o compromisso de convergência no ano seguinte. A inflação então recuou em direção à meta, em que permaneceu até o fim de 2007.
Ao deixar claro o desvio da inflação, assim como sua estratégia para eliminá-lo, o Copom estabeleceu, para si próprio, limites na condução da política monetária e deu ao setor privado a oportunidade de avaliá-lo no processo. Ao fim dele a inflação esperada havia convergido para 4,5%, valor do qual não se afastou até o fim de 2010, revelando a vitória do BC na batalha das expectativas.
O BC explicitou, pois, à época suas dificuldades e os custos de convergência; hoje, em contraste, tais informações são escamoteadas sob um rótulo impreciso e nenhuma indicação de como (ou quando) a atual diretoria pensa em trazer a inflação de volta à meta.
Some-se a isso o reconhecimento encabulado sobre o não cumprimento da meta fiscal (sugerindo que as premissas usadas para prever a inflação são mais otimistas do que o Copom gostaria de admitir publicamente) e temos uma explicação clara para a perda de credibilidade do BC, expressa em expectativas inflacionárias persistentemente superiores à meta.
Já passamos da hora de o BC explicitar o que pretende fazer acerca da inflação, revelando qual o valor que de fato persegue e como pretende cumprir o mandato que lhe foi conferido.
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