FOLHA DE SP - 04/09
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, tem reagido como se esperava -da pior maneira possível- à simples perspectiva de alternância de poder no país.
A pouco mais de um mês do pleito em que tentará seu terceiro mandato consecutivo, o presidente declarou no domingo que uma vitória da oposição "talvez" não chegue a provocar uma guerra civil na Venezuela, mas certamente provocaria uma crise "política, econômica e social".
A ameaça mal dissimulada veio após a divulgação de pesquisas de intenção de voto que apontam o crescimento do candidato da oposição, Henrique Capriles. Na sondagem mais recente, os dois postulantes aparecem em empate técnico -mesmo resultado de agosto em outra pesquisa.
O instituto independente Datanálisis, contudo, apesar de identificar a ascensão de Capriles, ainda aponta Chávez com vantagem de mais de dez pontos percentuais.
O tom beligerante do líder bolivariano denota seu pouco respeito ao processo democrático, cujas formalidades mínimas ainda sobrevivem no país. Seria ingênuo esperar outra reação de um chefe de governo que tenta confundir sua imagem com a das instituições públicas e não hesita em demonizar a oposição, restringir a liberdade de imprensa, subjugar o Legislativo e interferir no funcionamento do Judiciário.
Tanto quanto a democracia, a economia na Venezuela tem sofrido as consequências do populismo chavista. O crescente controle estatal sobre as mais diversas atividades cobra preço alto, com aumento da inflação e queda na eficiência de empresas e serviços.
As dificuldades criadas pelo regime têm, por outro lado, favorecido os adversários. Menos radical do que no passado, a oposição surge com chances de ameaçar o caudilho bolivariano nas urnas.
As recentes declarações, sinal da preocupação de Chávez com o pleito, despertam temores quanto aos desdobramentos de uma eventual vitória oposicionista.
A democracia é uma valiosa conquista regional e -vale lembrar- um requisito para as nações participarem do Mercosul. Qualquer desvio da normalidade democrática deverá, evidentemente, ser refutado pelo Brasil e pelos demais membros do bloco.
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