sábado, agosto 04, 2012
Um agosto perigoso - GILLES LAPOUGE
O Estado de S.Paulo - 04/08
Mario Draghi, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), é um sujeito audacioso. Ao recusar-se na quinta-feira a conceder uma ajuda maciça e instantânea aos países que estão à beira da debacle na zona do euro, contrariamente ao que havia sugerido inicialmente, o italiano assumiu um grande risco. Ainda mais que estamos no começo de agosto.
Na Europa, agosto é o mês das férias, das boates, do "far niente", de Saint-Tropez, das noites de Capri e da sesta. Portanto, se um grave acidente em matéria de pagamento ou de crédito ocorrer no torpor de agosto, será necessário algum tempo para que os responsáveis deixem Berlim, Roma ou Madri para se encontrarem em Bruxelas. Mas se os homens políticos são lentos como lesmas, os especuladores são rápidos como relâmpago. E, às vezes, bastam 24 horas para que tudo desmorone.
Por exemplo, mesmo em agosto, os países continuam a tomar emprestado dos investidores. Emissões a médio e longo prazos estão previstas na Espanha e na Itália nos dias 14 e 16 de agosto. Qual será o juro ao qual Roma ou Madri poderão obter o dinheiro tão indispensável? Depois do fiasco da reunião de quinta-feira, depois da decepção de Draghi, os juros subiram consideravelmente. Ontem pela manhã, os empréstimos do Estado espanhol de dez anos chegaram a 7,2% e os títulos da dívida italiana superaram os 6% - mais tarde chegaram ao redor de 6,3%.
Sabendo que a França toma emprestado a menos de 2,0%, que a Alemanha, às vezes, se beneficia de juros negativos (ela reembolsa menos do que recebeu), é fácil avaliar os estragos que essas distorções dos juros provocam numa Europa que se diz unificada, e para uma moeda supostamente comum, o euro.
Nem tão 'comum'. Na realidade, a moeda comum não é totalmente comum. Um exemplo da diferença de valor entre o euro alemão e o euro, digamos, italiano. O jornal alemão Bild, embora eurocético e, enquanto tal, ávido por mostrar como o euro é nefasto à Alemanha, fez ontem uma curiosa constatação: as diferenças dos juros entre a Alemanha e seus vizinhos acabam representando uma renda considerável para os alemães. O Bild fez os cálculos: desembolsando menos dinheiro do que os outros para se abastecer de dinheiro, a Alemanha vem economizando mês após mês. Eis as cifras apresentadas pelo jornal: desde o início da crise do euro (há 30 meses), a Alemanha economizou 90 bilhões. E isso não é tudo: a modéstia dos juros aos quais o Estado alemão se capitaliza influencia todo o mercado do crédito interno: por exemplo, os créditos imobiliários ou os adiantamentos e os créditos concedidos às empresas alemãs que querem se capitalizar.
Os dados fornecidos pelo Bild talvez não sejam totalmente exatos, mas a mecânica que o jornal descreve é exata e sem contestação. E tudo isto deverá acalmar as queixas dos eurocéticos alemães (grupo do qual curiosamente o Bild, aliás, faz parte) mostrando-lhes que, a gritaria da chanceler Angela Merkel toda vez que ela precisa abrir a carteira para ajudar os pobres países a sobreviver, é em parte injusta.
Para salvar a Grécia, há dois anos a Alemanha, desembolsou a soma enorme de 46,1 bilhões (segundo as próprias estatísticas).
Esta soma é inferior às economias que Berlim conseguiu fazer graças ao diferencial dos juros. / TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA
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