FOLHA DE SP - 02/08
SÃO PAULO - No depoimento mais eletrizante da crise do mensalão, o ex-deputado Roberto Jefferson instou José Dirceu a pedir demissão da Casa Civil para preservar o mandato do presidente Lula. O grito abalou o Planalto: "Sai daí rápido, Zé!".
Chamado pelo chefe de "capitão do time", Dirceu era cabeça, tronco e membros do primeiro governo petista. Treinou guerrilha em Cuba, mas não conseguiu resistir mais de dois dias à metralhadora verbal de Jefferson. O petebista falou ao Congresso numa terça-feira; ele entregou a carta de renúncia na quinta.
Hoje começa o julgamento do mensalão no Supremo. O tribunal reservou cadeiras para todos os réus, mas o Zé do plenário será outro: o ministro José Antonio Dias Toffoli, ex-advogado do PT e ex-assessor de Dirceu na Casa Civil da Presidência.
Ele tem motivos de sobra para se declarar suspeito e deixar que os outros dez juízes decidam o caso. Defendeu Lula em três campanhas presidenciais pelo PT. A de 2002 teve contas pagas pelo réu Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT. Sua namorada, Roberta Rangel, foi advogada do réu Professor Luizinho, ex-deputado pelo PT. O irmão José Ticiano Dias Toffoli é prefeito e candidato à reeleição em Marília, no interior paulista. Adivinhe por que partido...
Hoje os repórteres Catia Seabra e Breno Costa dão mais um motivo para Toffoli não julgar o mensalão. Em 2006, ainda como advogado do PT, ele afirmou ao Tribunal Superior Eleitoral que as acusações "jamais ficaram comprovadas".
Como Jefferson também não estará no Supremo hoje, deve caber só ao ministro a tarefa de pedir para sair.
Declarar-se suspeito é um direito que a lei assegura ao magistrado para protegê-lo de ter a imparcialidade posta em dúvida. Uma das hipóteses previstas é a amizade com um dos acusados. Em 2007, a Folha questionou Toffoli: "O senhor é amigo de Dirceu?". Ele respondeu: "Sou".
Como se diz nos filmes de tribunal: sem mais perguntas, meritíssimo!
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