FOLHA DE SP - 22/08
SÃO PAULO - Seria despropositado achar que a fusão de disciplinas proposta pelo MEC vai resolver o problema da baixa qualidade no ensino médio no Brasil, mas a ideia tem lá os seus méritos.
Uma primeira consequência prática que não deve ser menosprezada é o fato de que professores não precisarão mais ficar pulando de escola em escola para dar aulas de física, química, geografia e história. Eles poderão cumprir sua carga horária num mesmo colégio, ministrando disciplinas mais genéricas como ciências da natureza e ciências humanas. E ter um mestre não itinerante, que conheça seus alunos, tende a ser uma vantagem importante.
O perigo da iniciativa, além do professor menos especializado, é que é mais difícil estruturar um roteiro de atividades quando o currículo é muito aberto do que quando é mais fechado. E um dos principais problemas de nosso ensino, como sugeriu trabalho de Martin Carnoy (Stanford), que filmou e comparou aulas dadas no Brasil, em Cuba e no Chile, é que boa parte dos professores não consegue organizar-se para aproveitar o tempo de que dispõe.
O ponto central nem é este. Gosto da fusão porque ela rompe com uma compartimentalização do saber que surgiu por razões que faziam sentido no século 19, mas que, desde então, carregamos mais por inércia que por detida reflexão epistemológica.
A tendência das ciências é imbricarem-se cada vez mais. A medicina é hoje dependente da estatística. É o casamento mais ou menos feliz da arte de Hipócrates com o saber de Pitágoras. A biologia precisará de doses crescentes de especialistas em computação. As fronteiras entre a química e a física são tudo menos claras e, não fosse a matemática, nem poderíamos falar em ciência.
Apenas fazer o aluno compreender que, nos níveis mais essenciais, todos os ramos do saber se interconectam já seria uma grande vitória para o ensino.
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