VALOR ECONOMICO - 22/08
Os consórcios que venceram os leilões de privatização, realizados em fevereiro, só divulgarão os nomes dos parceiros contratados no fim do mês, quando efetivamente começarão a administrar os aeroportos. As associações já foram reveladas ao governo, que vinha exigindo, desde o leilão, o reforço dos grupos. "Não se pode fazer um projeto de concessão e depois ir à praia", justifica um assessor com trânsito no Palácio do Planalto.
Liderado pela Triunfo Participações e Serviços e tendo como operadora a francesa Egis Avia, o consórcio que vai cuidar de Viracopos foi um dos que mais se reforçaram. Na área de engenharia, contratou a Naco (Netherlands Airports Consultants), empresa holandesa que assessorou a construção e ampliação de 550 aeroportos em todo o mundo, dentre os quais os de Frankfurt, Pequim e Amsterdã. Caberá à Naco desenvolver o projeto básico do aeroporto de Campinas, que em três décadas será o maior do país.
Grupos contrataram projetistas e operadores de renome
Para a área de operação, o grupo Triunfo acertou consultoria com o Aeroporto de Munique, o 6º maior da Europa, seis vezes premiado como o melhor do velho continente e duas vezes como o melhor no segmento de carga. Há mais de 20 anos esse aeroporto alemão presta consultoria a outros terminais. Sua responsabilidade, em Campinas, será elaborar o plano de transferência operacional da Infraero para a nova gestora, além de revisar o projeto básico e todos os projetos a serem elaborados pela Naco.
O grupo de Viracopos contratou, ainda, a CPEA (Consultoria, Planejamento e Estudos Ambientais) e a WALM para assessorá-lo na área ambiental. As duas empresas ficarão responsáveis, entre outras atribuições, pelo licenciamento e a avaliação de passivos nessa área.
O consórcio que vai administrar Cumbica, o maior aeroportos do país na atualidade, também se reforçou de forma considerável. Liderado pela Invepar, empresa de participações em projetos de infraestrutura de três fundos de pensão (Previ, Petros e Funcef) e da construtora OAS, o consórcio contratou a renomada empresa de consultoria Airport Consulting Vienna.
A companhia austríaca já realizou cerca de 300 projetos de consultoria e participou de 70 processos de concessão de aeroportos. A ideia é que ela auxilie a operadora oficial de Cumbica - a Airport Company South Africa (ACSA), empresa que administra os três principais aeroportos sul-africanos.
A Invepar contratou também a Engecorps, empresa de consultoria em engenharia do grupo espanhol Typsa. Ela atuará como projetista da ampliação de Guarulhos. A empresa tem experiência nos aeroportos de Madri, Lima e Barcelona, entre outros. Para a área de gestão, o consórcio contratou três empresas e um banco, todos com atuação internacional: McKinsey &Company, Accenture, Deloitte e BNP Paribas.
O aeroporto de Brasília, do consórcio liderado pela Engevix e que tem como operadora a argentina Corporación América, contratou a AECOM, gigante americana na área de consultoria de projetos de engenharia. A empresa trabalhou, por exemplo, no plano diretor dos aeroportos de Hong Kong e da cidade australiana de Brisbane. Atuou também em vários aeroportos americanos, entre eles, os de Los Angeles (LAX), Nova York (JFK) e Chicago (O"Hare).
O consórcio de Brasília contratou, também, a Mitre, entidade ligada ao prestigioso Massachusetts Institute of Technology (MIT). A Mitre assessora a FAA (Federal Aviation Administration), a Anac americana, e fará a revisão dos planos operacionais do aeroporto JK.
O resultado dos leilões de concessão frustrou autoridades, entre elas, a presidente Dilma Rousseff, porque entre os grupos ganhadores da disputa não havia projetistas de grande porte nem operadores renomados. Havia, ainda, a desconfiança de que eles não teriam capacidade financeira para assumir os compromissos firmados - um investimento total, durante o prazo de concessão, de R$ 16,1 bilhões nos três aeroportos.
Logo se descobriu que não haveria restrição financeira porque os grupos depositaram as garantias exigidas e, portanto, estavam aptos a participar da empreitada. Como quaisquer empresas que atuam no país, elas têm acesso, a juros favorecidos, aos financiamentos do BNDES. Ademais, por decisão do próprio governo, a Infraero terá participação de 49% no capital das três unidades, sendo responsável, portanto, por quase metade dos recursos a serem investidos.
Boa parte das queixas contra os consórcios vencedores dos leilões foi alimentada por grandes empreiteiras, derrotadas na disputa. A reclamação não deveria repercutir, afinal, o ágio pago pelos ganhadores ficou bem salgado - 348% acima do preço mínimo. Uma crítica possível é a de que o edital não fixou cláusula de barreira que, na prática, impedisse a vitória dos pequenos operadores.
O problema é que a ideia de que o processo foi um fracasso alimentou, nos últimos meses, a fúria de setores importantes do governo contra privatizações e que tais. Desde então, eles vêm atuando nos bastidores para convencer a presidente Dilma a desistir de conceder ao setor privado aeroportos como os do Galeão, no Rio, e de Confins, em Belo Horizonte.
De forma legítima - os editais e leis existentes permitem isso -, entidades oficiais vinham pressionando os consórcios vencedores, desde o resultado dos leilões, a reforçarem suas estruturas de operação e engenharia. O governo cogitou obrigar os grupos, o que foi evitado para evitar contestação judicial. As empresas acabaram reagindo favoravelmente às reivindicações e, hoje, pode-se dizer que estão prontas para ampliar e administrar, com o apoio de firmas de renome mundial, os terminais de JK, Viracopos e Cumbica.
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