RIO DE JANEIRO - Num processo que já arrolou mais de 600 testemunhas e soma mais de 50 mil páginas, o do mensalão, a única frase de humor até agora foi dita no começo do caso e por um dos principais envolvidos: o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, acusado de orientar a distribuição do dinheiro para comprar parlamentares e garantir apoio ao presidente Lula no Congresso. Indiferente ao volume de denúncias, Delúbio declarou que elas logo seriam "esclarecidas, esquecidas" e acabariam virando "piada de salão".
Piadas de salão eram aquelas que se podia contar em sociedade, na presença de idosos, senhoras e menores. Eram ingênuas, meio sem graça e, por isso, pareciam intermináveis-seus personagens costumavam ser portugueses, judeus, sogras, gagos. O mensalão também não tem graça e ameaça ser interminável, mas não tem nada de ingênuo -está mais para as piadas de papagaio, anões, freiras, gays e as do Joãozinho, típicas dos botequins.
Nos salões do passado, não ficaria bem alguém imiscuir-se numa roda em que estivessem crianças de peito e mães de família para contar piadas envolvendo formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva (epa!), peculato, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta de instituições financeiras. Muito menos se um dos canais por onde circulasse esse dinheiro fosse a cueca de um ou mais acusados.
Mas depende dos salões que Delúbio frequenta e das piadas que se contam neles. Veja bem, nada contra tais salões e piadas. Eu próprio frequentei alguns em que, de tão pesados, a piada da freirinha que fazia tricô no jardim do convento já ficara inocente. Mas nem nesses se faria piada com o desvio de recursos públicos para convencer deputados a votar a favor do governo.
Delúbio não deveria frequentar salões que o aceitassem como convidado.
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