Nem mesmo em tempos de julgamento da Ação Penal 470 no Supremo Tribunal Federal (o processo do mensalão do PT), o partido de Lula não consegue se unir. Entra ano, sai ano, a lógica dos campos e tendências volta a imperar em várias discussões. A definição de candidatos às eleições municipais está cheia de exemplos nesse sentido. E, agora, com a campanha em curso, quem foi preterido cuida da vida, sem dar a menor bola para a sorte dos que concorrem nas principais cidades do país ou mesmo o julgamento do STF.
Curitiba é um dos exemplos da lógica petista, onde a disputa interna prevalece sobre qualquer outra coisa. Vale a pena recordar o que ocorreu ali recentemente. O deputado Dr. Rosinha (PT-PR) integra a Democracia Socialista (DS), um segmento da esquerda partidária que volta e meia tem atritos com a direção do partido e a própria condução do governo. Tentou como ninguém ser candidato a prefeito da capital do estado contra a vontade do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, e da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.
O casal preferiu apoiar Gustavo Fruet (PDT-PR), ex-tucano e um dos algozes do PT na CPI dos Correios, do que seguir com Rosinha e permitir que o deputado se destacasse ao ponto de lhes comprometer a hegemonia partidária nas eleições de 2014. Agora, lá está Fruet numa campanha espremida entre o julgamento do mensalão e os neoaliados. Nesse cenário, Doutor Rosinha cuida mais do parlamento do Mercosul e passa longe da campanha. Quer mais é que Fruet se exploda. Quanto ao mensalão, sua torcida é apenas que esse período passe logo. Essa ala mais à esquerda do PT não moverá um dedo em defesa do antigo campo majoritário.
Por falar em defesa…
Os advogados dos réus do mensalão entram em cena a partir de hoje no sentido de tentar equilibrar a balança da Justiça. E eles merecem o mesmo tratamento que recebeu o procurador-geral da República no momento em que detalhou a acusação. Na avaliação de alguns publicitários amigos, em tempos de TV Justiça e canais especializados em notícias transmitindo o julgamento ao vivo, advogados de políticos — e ali há vários — não podem se esquecer de que é preciso usar uma linguagem menos rebuscada. Foi-se o tempo em que falavam apenas para os juízes. Hoje, embora a Justiça seja cega e não deva se render a pressões seja para condenar ou absolver, é preciso levar em conta esse detalhe.
O procurador-geral, Roberto Gurgel, por exemplo, ousou, ao se expressar de uma forma mais acessível a qualquer cidadão que tenha um mínimo de conhecimento da língua portuguesa. Fugiu do “jurisdiquês”. Veremos agora se os advogados vão aproveitar a transmissão ao vivo para tentar apresentar seus clientes inocentes perante os telespectadores ou centrarão fogo num linguajar jurídico de costume, focados apenas nos ministros, como de costume.
Se forem à segunda opção, correm o risco de passar ao telespectador a impressão de ser um “Rolando Lero”, o antigo personagem do finado Chico Anísio, na Escolinha do Professor Raimundo. Quer os advogados gostem ou não, hoje tudo é muito instantâneo e não há tempo de traduzir o jurisdiquês posteriormente, para esclarecer tudo ao telespectador. No passado, o que era dito só chegaria ao conhecimento do cidadão comum horas depois, sem a transmissão direta.
Por falar em cidadão comum…
Muito tem se falado da ausência da oposição nas imediações do edifíco do Supremo Tribunal Federal. Mas ninguém se lembra de que os réus, pelo visto, só vão contar mesmo com seus advogados. Em outros tempos, gente simples filiada ao PT estaria em peso na Praça dos Três Poderes, à porta do STF, defendendo a antiga cúpula do partido. Mas, agora, com a eleição municipal nas ruas, ao que tudo indica, prefere não arriscar.
As alas à esquerda do PT não moverão um dedo em prol dos antigos comandantes do partido no caso do mensalão nem de candidatos apoiados por eles nas eleições municipais
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