segunda-feira, agosto 06, 2012

Inclusão digital - AÉCIO NEVES


FOLHA DE SP - 06/08


A partir da estratégia de municipalização traçada pela Constituição de 1988, o Brasil pôde avançar muito em duas áreas fundamentais: a saúde e a educação. Com ajuda das prefeituras, tivemos a implantação paulatina do Sistema Único de Saúde e a grande jornada pela universalização do ensino fundamental e da pré-escola.

Por que não adotar caminho semelhante para acelerar o combate à exclusão digital?

Um estudo da fundação Getúlio Vargas (FGV), conduzido pelo economista Marcelo Neri, mostra a enorme desigualdade entre os municípios brasileiros quando se trata do uso de computadores, telefones fixos e celulares e banda larga, pela população. É uma realidade agora acentuada com a febre de smartphones e tablets.

Há uma grande pertinência na abordagem desse tema no atual momento brasileiro, com a eleição municipal e o debate de planos de governo entre milhares de candidatos e milhões de eleitores.

São conhecidas boas histórias de sucesso de prefeituras que trabalham para ampliar efetivamente a inclusão digital  em seu território, em parceria com os governos estaduais ou federal.

A pesquisa da FGV traz projeções feitas para 2012, mostrando que a maioria dos brasileiros usa a internet com a finalidade de comunicação (33,3%), lazer (27,5%), educação (26,4%) e informação de jornais ou revistas (23,3%), transações financeiras (5,3%), compras de bens e serviços (6,16%) e interação com autoridades públicas ou órgãos de governo (6,1%).

Essa última categoria alcança um percentual ainda muito pequeno, o que "indica a falta de comunicação e interação entre o setor público e a sociedade civil", um problema crônico no Brasil. A situação é mais grave nas classes de renda e escolaridade mais baixas.

Desde 2000, temos um programa de governo eletrônico para melhorar as relações da administração com os cidadãos, empresas e órgãos do próprio setor público, em busca do aprimoramento da qualidade dos serviços prestados.

A iniciativa ganhou mais relevância agora, articulada com outros avanços, como a obrigatoriedade da prestação de contas governamentais em várias esferas e a crescente transparência exigida pela sociedade, que permitem um controle social mais efetivo, além da indispensável participação dos cidadãos nas políticas públicas.

O país que ultrapassou a casa dos 250 milhões de celulares e "bomba" nas redes sociais deve priorizar o desafio da inclusão digital por meio de uma grande pacto que reúna diferentes instâncias de governos, entidades e iniciativa privada.

Oferecer condições para um maior acesso à informação e ao novo mercado de trabalho pode ser um caminho eficaz para começarmos a resgatar a grande dívida que temos com a nossa juventude.

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