FOLHA DE SP - 10/07
Convém saber o que será considerado julgamento político pelo novo comando da CUT no caso do mensalão
A AMEAÇA até faz lembrar, pelo tom e pela pretensão, os últimos meses antes do golpe de 64. A carga de pressão lançada contra o Supremo Tribunal Federal, em sugestiva estreia do novo presidente da CUT, é uma caricatura das ameaças multiplicadas, a cada dia daqueles tempos, pelo sindicalismo e suas centrais.
Vagner Freitas adverte os ministros do STF de que o julgamento do mensalão "não pode ser um julgamento político", e, "se isso ocorrer, nós [a CUT] iremos para as ruas". Seria então, quando menos, um sinal de que a CUT ainda respira, depois de docilmente sufocada pelos oito anos presidenciais de Lula.
Mas Vagner Freitas não explicita os critérios pelos quais julgará o julgamento, se político ou não. Ou seja, em que circunstâncias emitirá a ordem de ação que porá a CUT nas ruas. A rigor, o problema em aberto é ainda maior: a ameaça não foi ilustrada nem sequer por algum indício, qualquer um, de que tais critérios existam no novo comando da CUT.
Não só aos ministros do Supremo, mas a todo o país convém saber o que será considerado, ou não, julgamento político e, portanto, indutor de quebra da estabilidade política e social vigente. Pois é disso que fala Vagner Freitas. "Não queremos um país desestabilizado por uma luta político-partidária" para exprimir um desejo que é geral, mas é uma frase dúbia.
Pode exprimir uma visão exagerada de um possível julgamento politizado, mas também pode insinuar reações extremadas. Ou capazes de desestabilizar o país.
Apenas por curiosidade política, ou metida a sociológica, a mim agradaria um esclarecimento especial de Vagner Freitas (jamais confundir, por favor, com Vagner Love, pacífico salvador do Flamengo, nem com outros Freitas sem poder).
De que modo e por que a contraposição de petistas e seus adversários, a propósito do julgamento, "poderia colocar em risco os avanços sociais conquistados pelo país após a chegada do PT ao poder"? [estas aspas reproduzem a repórter Mariana Carneiro ao transcrever Vagner Freitas].
É uma relação esquisita, esta entre a divergência política e a derrubada das conquistas sociais.
Como resultado preliminar da estreia do novo presidente da CUT, pode-se pôr em sua conta a provável reação lógica e natural de um ou outro ministro, ou de vários: até sem a percepção de que o fazem, calcar no rigor de tal ou qual voto, para afirmar e afirmar-se a sua indiferença a pressões e ameaças.
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