O GLOBO - 15/07
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, mesmo insistindo em dizer que seu PSD não é um partido linha auxiliar do governo federal, fez questão de dar, desde já, uma demonstração de lealdade ao projeto de reeleição da presidente Dilma com a intervenção no diretório municipal de Belo Horizonte
A interpretação do Palácio do Planalto foi que o senador Aécio Neves, provável candidato à Presidência da República pelo PSDB, nacionalizou a campanha municipal ao forçar a dissolução da aliança tríplice PT-PSB-PSDB de apoio ao prefeito socialista Marcio Lacerda.
Ao trabalhar para a saída do PT da aliança, o senador tucano estaria marcando uma posição no estado que controla politicamente, deixando a presidente isolada com o PT justamente na capital do estado onde nasceu.
Kassab não se fez de rogado: sem ter nada com essa disputa, fez questão de intervir para invalidar a decisão do PSD de Belo Horizonte de apoiar o candidato de Aécio Neves, dando uma demonstração de apoio incondicional ao projeto de reeleição de Dilma, até mesmo para compensar o desapontamento que provocou no ex-presidente Lula ao desistir de apoiar a candidatura de Fernando Haddad para a prefeitura em São Paulo "por lealdade" a José Serra.
É assim, equilibrando-se entre suas "lealdades", que o prefeito Gilberto Kassab arma seu futuro político, claramente identificado com o projeto de continuidade do governo petista.
Ele procura minimizar a importância da disputa paulistana, identificada como a mais importante simbolicamente para o ex-presidente Lula, dizendo que o gesto do senador Aécio Neves transformou a disputa em Belo Horizonte na mais importante das próximas eleições municipais.
Faz isso até mesmo porque acha que Serra ganha com certa facilidade em São Paulo, e que Patrus Ananias, o candidato petista que seu partido passou a apoiar, tem mais chances de vencer em Belo Horizonte.
Em São Paulo, ele avalia que o candidato Celso Russomano pode ser um adversário até mais difícil que o petista Fernando Haddad.
Kassab não é político de enfrentar as divergências com agressividade, antes pelo contrário. À senadora Katia Abreu, um dos principais nomes de seu partido que se revoltou com a intervenção em Belo Horizonte, ele dá o benefício da coerência, e admite que ela foi a única líder do partido, entre vários que diz ter consultado, a ter ficado contra a decisão logo no primeiro momento.
Com isso, evita a disputa e, ao mesmo tempo, isola o gesto da senadora, que já se movimenta em direção ao PMDB.
Kassab tem certeza de que o projeto de apoiar a reeleição de Dilma Rousseff não será atropelado pela reafirmada lealdade a José Serra, que o levou para a Prefeitura de São Paulo e o elegeu prefeito na sucessão.
Ele tem "certeza" de que Serra não será candidato à sucessão de Dilma, "mesmo que o Aécio Neves desista". E é pragmático quanto a isso: "Se o Aécio desistir, com a desculpa de que precisa reforçar Minas, seu reduto eleitoral, é porque estará difícil vencer Dilma. Se for difícil para ele, imagina para o Serra, que teria, mais uma vez, de desistir de completar seu termo na prefeitura para se lançar nessa aventura".
Na avaliação de Kassab, o senador tucano Aécio Neves se precipitou ao antecipar a disputa com o Palácio do Planalto, e pode ter uma surpresa na disputa da Prefeitura de Belo Horizonte.
Mesmo o PSB de Eduardo Campos, que continua na aliança com o PSDB, estaria desgostoso com a atitude de Aécio, que teria colocado o governador de Pernambuco em oposição a Dilma, sem que ele quisesse que isso acontecesse, em Belo Horizonte.
O ex-governador mineiro, com isso, teria querido trazer Campos para seu lado na disputa presidencial, forçando uma situação de fato que seria indesejada por ele.
O prefeito Gilberto Kassab também minimiza a disputa com o governador Geraldo Alckmin pelo comando da candidatura de Serra à Prefeitura de São Paulo, dizendo que "é natural" que tenha mais influência porque "a disputa é pela prefeitura, onde temos muitas obras em andamento que servirão de apoio à eleição de Serra".
Ele só fala de sua administração como sendo a de "Serra-Kassab", acredita que sua avaliação nas pesquisas de opinião é "bastante confortável", já que, nos seus critérios, que divergem dos da pesquisa Datafolha, os 30% de regular contam a seu favor: "Sempre achei que quem diz que um governo é regular não está criticando".
Garante que não será candidato a governador de São Paulo na sucessão de Alckmin e, ao contrário, vai apoiá-lo, mas essa afirmação não deve ser levada ao pé da letra, pois é a única que pode dar na atual circunstância, sendo parceiro do governador paulista na campanha de Serra à prefeitura.
Na análise que faz do campo nacional, Kassab não esconde sua origem serrista em São Paulo, avaliando que o senador Aécio Neves está jogando de maneira errada os lances iniciais para a disputa presidencial.
Diz que não vê nenhum motivo, pelo menos por enquanto, para reavaliar sua posição de dar apoio à reeleição de Dilma, pois Aécio Neves, o potencial candidato tucano, "ainda não se mostrou um líder com peso nacional".
O prefeito paulistano só vê um risco para a reeleição de Dilma: a situação econômica do país, ameaçada por problemas internos e pela crise internacional, que não tem perspectiva de terminar.
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Na coluna de sexta-feira, errei ao dizer que o senador Saturnino Braga havia sido eleito pelo PDT. Ele era do PSB e foi para o PT. O acordo para dar a metade do mandato a Carlos Lupi, do PDT, fora feito pelos partidos.
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A coluna volta a ser publicada no dia 29 de julho. No blog, vou publicar notícias (e fotos) da viagem que farei a Salzburg para o festival de música. Levo para o descanso o novo romance de Zuenir Ventura: "Sagrada Família". Espero voltar renovado para acompanhar o julgamento do mensalão.
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