CORREIO BRAZILIENSE - 15/06
Ninguém na CPI foi mais poderoso do que o dono da Delta, nem mesmo os governadores. Nesse sentido, 17 integrantes da comissão perderam ontem a chance de mostrar que Cavendish mentia quando insinuava a compra de parlamentares
É intrigante observar o vai e vem dos partidos dentro da CPI que investiga as relações entre o contraventor Carlos Cachoeira e autoridades públicas. Idem nas conversas em torno das eleições municipais. Na CPI, por exemplo, ontem ficou muito claro o retorno dos políticos aos seus devidos lugares no cenário político. Depois da mistura entre oposicionistas e governistas na hora de convocar os governadores, os grandes retomaram suas cadeiras, graças ao pedido de convocação de Fernando Cavendish, o dono da Delta Construções. Não houve, até o momento, nome mais expressivo do que o dele para reunificar PT e PMDB, os maiores partidos que vivem às turras em quase todos os momentos, especialmente, nas eleições municipais. O empresário se mostra mais poderoso do que os governadores.
E, cá entre nós, chega a doer ver deputados e senadores recusarem a simples aprovação de um pedido para que Cavendish vá depor na CPI, ainda que deixassem a marcação da data para outra oportunidade. E olha que isso ocorre depois de a sociedade tomar conhecimento de gravações em que o empreiteiro parece contar vantagem e insinuar que com R$ 6 milhões tem um parlamentar na mão. No mínimo, 17 integrantes da comissão, puxados pelo relator, Odair Cunha (PT-MG), perderam uma boa oportunidade de provar que Cavendish mentiu ao se referir a tão nobres representantes eleitos pelo povo para compor o Poder Legislativo nacional.
No plano macro, ficou explícito que a maior parcela dos governistas, em especial, PT e PMDB, não quer a CPI de olho em obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Tampouco desejam ver o ex-diretor do Departamento de Infraestrutura em Transportes (Dnit) Luiz Antônio Pagot apresentando sua versão sobre o que ocorreu por ali no ano de 2010, quando a presidente Dilma Rousseff era candidata a presidente da República em parceria com Michel Temer. Fadados a seguir juntos pelo menos até o fim deste governo, os dois partidos protegem-se na CPI e deixam a briga para os palanques eleitorais, seara em que a desconfiança mútua prossegue em ritmo acelerado.
Por falar em desconfiança…
Os peemedebistas hoje acompanharão de orelha em pé o encontro do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, com o ex-presidente Lula. O governador segue para São Paulo logo depois da reunião de governadores em Brasília com a presidente Dilma Rousseff, que permanece centrada na defesa da economia. Dilma sabe que a economia é o pilar que sustenta o seu governo e aglutina os aliados. Ela também tem plena consciência de que o PMDB nunca se sentiu tão desconfortável. De uma noiva cobiçada pelos petistas há dois anos, quando ofereceu seu presidente Michel Temer para compor a chapa com Dilma, o PMDB se vê hoje como aquela esposa que o marido — no caso, o PT — incentiva a viajar ao exterior, a fim de ficar livre para passear com a antiga namorada dos tempos das “vacas magras”, o PSB.
Enquanto o PMDB anda pelo mundo, o PSB nesta sexta-feira dirá a Lula que fecha com Fernando Haddad para prefeito de São Paulo. A ideia é apresentar a deputada Luiza Erundina como candidata a vice para compor a chapa. Feito isso, os socialistas pretendem comunicar a Lula que a culpa pela situação de racha em Pernambuco se deve ao próprio PT, incapaz de se unir em torno de um candidato para concorrer à prefeitura de Recife. Ora, Eduardo Campos é tão forte em seu território quanto o ex-presidente Lula. Nesse cenário, deixará claro que é melhor esses dois fortes buscarem uma proteção mútua — ou seja, um candidato do PSB — do que seguirem com um petista que já sai enfraquecido pela divisão no próprio PT. Assim, Lula e Eduardo são bem capazes de ficarem com essa proteção mútua para evitar surpresas no futuro.
Por falar em surpresas…
Os peemedebistas têm toda razão em acompanhar de perto essas conversas de Lula e Eduardo Campos. Embora esteja cada vez mais claro que Dilma Rousseff é o nome petista para 2014 e haja interesse em manter a parceria com o PMDB, a vida eleitoral em São Paulo ao longo do primeiro turno tende a afastar os dois partidos. Afinal, o deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP), pré-candidato a prefeito, é educador e Haddad, ex-ministro da Educação. Embates nesse campo virão, apesar de todo o esforço de Chalita para centrar os ataques em José Serra, o nome do PSDB. E, como você sabe, leitor, eleição, assim como CPI sempre deixam feridas abertas. A diferença é que, em eleição, invariavelmente, os fortes, quando podem, concorrem entre si. Em CPI, geralmente, eles se protegem. Essa CPI do Cachoeira não parece ser exceção. Infelizmente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário