O GLOBO - 15/06
A CPI do Cachoeira tem conhecidas deformações de origem, por ter sido criada - e não poderia ser de outra forma - com a aquiescência da base parlamentar do governo.
Mesmo que, segundo consta, o Planalto preferisse não correr o risco de ter esta comissão no Congresso, o grupo petista ligado a Lula vislumbrou, com grande senso de oportunidade, a chance de atingir adversários com o resultado de investigações da PF sobre as articulações do contraventor goiano no mundo da política. A tentação foi irresistível, por se tratar de ano eleitoral
O primeiro e mais visível alvo era o senador Demóstenes Torres, ainda do DEM goiano, conhecido arauto da moralidade no Congresso e denunciante de estripulias éticas de petistas. Hora do troco. (Espera-se que o senador, hoje sem partido, seja de fato cassado, como exemplo de punição a quem atua no Estado em nome de organizações criminosas.) Também seria hora de alvejar um tucano de farta plumagem, o governador Marconi Perillo, de Goiás.
Perillo desagradou a certos petistas quando, no estouro do escândalo do mensalão, em 2005 - caso que o então presidente da República garantiu desconhecer -, afirmou ter alertado o próprio Lula para a existência do esquema. Outro troco.
Entre os danos colaterais da CPI, na hipotética avaliação de um estrategista deste núcleo do PT, o maior seriam estilhaços de Carlinhos Cachoeira sobre o governador de Brasília, Agnelo Queiroz. Este, também como Perillo, apanhado pela PF na teia de articulações do contraventor. O desdobramento dos fatos é prova que, neste balanço de perdas e danos, deve-se ter concluído que valeria a pena correr o risco de se empurrar para o patíbulo o governador, um petista jejuno, ex-militante do PCdoB, filiado ao partido para concorrer, e vencer, as eleições brasilienses de 2010.
Mas a comissão de Cachoeira confirma a velho ditado de que "CPI, sabe-se como começa, não se sabe como termina". Não devia estar nos planos dos maquiavélicos insufladores da instalação das investigações no Congresso que a Delta, principal empreiteira do PAC, terminasse surpreendida em situações comprometedores assim que algumas luzes foram acesas nos porões do esquema de Carlinhos Cachoeira. A empreiteira de Fernando Cavendish promete ser um arquivo excitante de traficâncias com políticos e, talvez, autoridades. Explica-se a dificuldade de a CPI, controlada pela base governamental, avançar no tema.
Há uma força de gravidade própria nas CPIs. Perillo não quis oferecer a quebra de seus sigilos bancário, telefônico etc. Teve de admiti-lo depois que Agnelo Queiroz o fez. E, mesmo que não desejasse, ontem a CPI formalizou a abertura destas informações de ambos.
À margem da CPI, o Ministério Público Federal decidiu, com fundadas razões, pedir ao STJ para investigar os dois governadores. Afinal, o tucano não consegue explicar o imbróglio da venda de uma casa, numa operação em que aparece Cachoeira; e o petista enfrenta a mesma dificuldade para provar que a velocidade supersônica da ampliação de seu patrimônio se deve a méritos financeiros próprios.
Enquanto claques de tucanos e petistas se enfrentam no octógono da CPI, procuradores e promotores precisam mesmo agir. Provas, indícios, vestígios de falcatruas com dinheiro público não faltam em toda esta história. Aprendizes de feiticeiros parecem ter liberado forças de difícil controle.
Mesmo que, segundo consta, o Planalto preferisse não correr o risco de ter esta comissão no Congresso, o grupo petista ligado a Lula vislumbrou, com grande senso de oportunidade, a chance de atingir adversários com o resultado de investigações da PF sobre as articulações do contraventor goiano no mundo da política. A tentação foi irresistível, por se tratar de ano eleitoral
O primeiro e mais visível alvo era o senador Demóstenes Torres, ainda do DEM goiano, conhecido arauto da moralidade no Congresso e denunciante de estripulias éticas de petistas. Hora do troco. (Espera-se que o senador, hoje sem partido, seja de fato cassado, como exemplo de punição a quem atua no Estado em nome de organizações criminosas.) Também seria hora de alvejar um tucano de farta plumagem, o governador Marconi Perillo, de Goiás.
Perillo desagradou a certos petistas quando, no estouro do escândalo do mensalão, em 2005 - caso que o então presidente da República garantiu desconhecer -, afirmou ter alertado o próprio Lula para a existência do esquema. Outro troco.
Entre os danos colaterais da CPI, na hipotética avaliação de um estrategista deste núcleo do PT, o maior seriam estilhaços de Carlinhos Cachoeira sobre o governador de Brasília, Agnelo Queiroz. Este, também como Perillo, apanhado pela PF na teia de articulações do contraventor. O desdobramento dos fatos é prova que, neste balanço de perdas e danos, deve-se ter concluído que valeria a pena correr o risco de se empurrar para o patíbulo o governador, um petista jejuno, ex-militante do PCdoB, filiado ao partido para concorrer, e vencer, as eleições brasilienses de 2010.
Mas a comissão de Cachoeira confirma a velho ditado de que "CPI, sabe-se como começa, não se sabe como termina". Não devia estar nos planos dos maquiavélicos insufladores da instalação das investigações no Congresso que a Delta, principal empreiteira do PAC, terminasse surpreendida em situações comprometedores assim que algumas luzes foram acesas nos porões do esquema de Carlinhos Cachoeira. A empreiteira de Fernando Cavendish promete ser um arquivo excitante de traficâncias com políticos e, talvez, autoridades. Explica-se a dificuldade de a CPI, controlada pela base governamental, avançar no tema.
Há uma força de gravidade própria nas CPIs. Perillo não quis oferecer a quebra de seus sigilos bancário, telefônico etc. Teve de admiti-lo depois que Agnelo Queiroz o fez. E, mesmo que não desejasse, ontem a CPI formalizou a abertura destas informações de ambos.
À margem da CPI, o Ministério Público Federal decidiu, com fundadas razões, pedir ao STJ para investigar os dois governadores. Afinal, o tucano não consegue explicar o imbróglio da venda de uma casa, numa operação em que aparece Cachoeira; e o petista enfrenta a mesma dificuldade para provar que a velocidade supersônica da ampliação de seu patrimônio se deve a méritos financeiros próprios.
Enquanto claques de tucanos e petistas se enfrentam no octógono da CPI, procuradores e promotores precisam mesmo agir. Provas, indícios, vestígios de falcatruas com dinheiro público não faltam em toda esta história. Aprendizes de feiticeiros parecem ter liberado forças de difícil controle.
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