FOLHA DE SP - 11/06
Depois da bolha, Primavera Árabe dá beneficio a Dubai
Emirado é visto como porto seguro para paises e fortunas da região, mas fase de aquisições no exterior passou
Três anos depois do estouro de uma bolha imobiliária, Dubai ainda ainda se ressente da crise.
Das quase 100 corretoras ativas em 2008, cerca de 40 suspenderam as operações. Os preços de imóveis caíram cerca de 60% desde o pico naquele ano, mas há quem cite casos de recuo de 80%.
"Aluguéis mais baixos reduziram o custo de vida em Dubai e estimularam a realocação de negócios e pessoas para Dubai", disse em seu escritório Nasser Saidi, economista-chefe do Dubai International Financial Centre, um parque empresarial isento de impostos, como é quase tudo nos Emirados Árabes Unidos e no Qatar.
O Itaú Unibanco e a Brasil Foods se instalaram lá, como inúmeras empresas e bancos estrangeiros. De Dubai, as companhias cobrem o Oriente Médio.
O emirado, que vinha crescendo dois dígitos por ano, acusou o golpe no Lehman Brothers e a crise financeira: os fluxos secaram, o comércio global e os preços de commodities caíram, sem contar as perdas em investimentos nos EUA e na Europa.
O governo e empresas estatais tinham embarcado em uma frenética construção de infraestrutura, "que, no entanto, requer financiamento de longo prazo, não dívida bancária de curto prazo", acrescentou Saidi, em entrevista à coluna em sua sala, no futurístico centro financeiro de Dubai, conversa completada depois por e-mail.
"Essa cidade, incrivelmente aberta, como Cingapura ou Hong-Kong, ficou exposta aos ventos gelados da recessão global."
Depois da exposição, que deixou uma dívida de cerca de US$ 110 bilhões, Dubai vem se recuperando.
Os Emirados Árabes Unidos _ que incluem Dubai _ cresceram 3,3% no ano passado. "Esperamos crescimento entre 4% e 4,5% neste ano, se não houver uma quebra maior na Eurozona e um choque no preço do petróleo."
O fluxo de pessoas e negócios foi reforçado pela estabilidade política e o status de porto seguro de Dubai na região pós - Primavera Árabe. "Estamos vendo uma demanda crescente de países afetados por problemas políticos, e de companhias que querem estabelecer escritórios em Dubai, ou se mudar para cá", disse o economista-chefe, que também foi ministro da Fazenda, do Comércio e da Indústria do Líbano, além de vice-presidente do Banco Central daquele país.
Executivos brasileiros e estrangeiros que vivem em Dubai confirmam o interesse pelo emirado.
"Dubai tem também lidado com a dívida pela redução de gastos do governo, focando em investimentos estratégicos e saindo de ativos, particularmente em economias e economias estrangeiros que não eram relacionados a objetivos estratégicos de desenvolvimento", afirmou.
O emirado tem o prédio mais alto do mundo com mais de 200 andares e ilhas artificiais em forma de palmeira e do mapa-mundi.
Foi feita uma reestruturação e reduzido o desenvolvimento de imóveis, com uma administração financeira mais centralizada.
"A volta do crescimento trouxe melhora de fluxo de caixa para empresas ligadas ao governo e empresas estatais, além de maior crescimento de receita para o governo", disse Saidi.
Aquisições no exterior
"Os dias de aquisições estrangeiras e private equity acabaram", afirmou à coluna Aaron Bielenberg, que também é do DIFC e atuou como consultor do governo de Dubai na crise financeira e na série de vezes em que fundos soberanos locais levantaram recursos.
"Acabou-se para Dubai, mas Qatar e Abu Dhabi ainda estão fazendo [compras de ativos no exterior], cada vez mais, um mais que o outro."
De acordo com Bielenberg, Dubai tem feito um notável esforço para voltar ao caminho do crescimento.
Seu grande negócio tem sido ser um "hub". Óleo sempre foi um pequeno e declinante contribuinte para o orçamento.
"O modelo de negócio de Dubai é o de ter taxas e aluguéis de sua posição de 'hub' para transporte de mercadorias e pessoas e de ser um centro tolerante para se fazer negócios. Permitiu estrangeiros trabalhar aqui, comprar imóveis e crescer", acrescentou.
Enquanto muito da infraestrutura foi feita através de alocação do orçamento, muito de aquisições estrangeiras e expansão foram com dívida de curto prazo para negócios de longo prazo.
Em novembro de 2009, Dubai não poderia refinanciar essa dívida dada a crise financeira e teve de reestruturar a sua maior companhia, a Dubai World, e uma série de outras obrigações de dívida.
"Uma vez iniciada a reestruturação, entretanto, houve rápido avanço, com credores internacionais tratados com justiça. Abu Dhabi deu grande apoio e Dubai foi em um ano capaz de voltar aos mercados financeiros surpreendentemente", de acordo com Bielenberg.
Foco em serviços
Agora Dubai está voltando às suas raízes como hub e está focado mais do que nunca em crescimento de seus serviços, logística, hotéis, em lazer e negócios.
"O emirado tem três Ts [em inglês], de transporte, turismo e comércio, que sustentam os 4 Ss, sol, shopping, mar e areia, que atraem turismo e negócios", disse Saidi. "Dubai sabe que está muito endividado, que não se desalavancou realmente e está criando políticas para crescer sem dívida, com expansão de shopping, de aeroporto, hotel e dando maior clareza a sua estrutura legal."
Primavera Árabe
Dubai sempre se beneficiou de turbulências na região e a Primavera Árabe tem causado um "boom" no emirado. Grande parte da fortuna regional está se mudando para Dubai com negócios e pessoas.
"É agora parte da Rota da Seda e o único refúgio seguro para Rússia, Ásia Central, África e China", disse Bielenberg.
"Os dias de aquisições estrangeiras e de ações de private equity acabaram. Mas Qatar e Abu Dhabi ainda estão fazendo, um mais que o outro"
AARON BIELENBERG
"Dubai sabe que está muito endividado, que não se desalavancou realmente, e está criando políticas para crescer sem dívida, com expansão de shopping, de aeroporto, hotel e dando maior clareza a sua estrutura legal"
BIELENBERG, DO DIFC, que foi consultor do governo de Dubai na crise financeira
"O fluxo de pessoas e negócios foi reforçado pela estabilidade política e o status de porto seguro de Dubai na região pós - Primavera Árabe. Estamos vendo uma demanda crescente de países afetados por problemas políticos, e de companhias que querem estabelecer escritórios em Dubai, ou se mudar para cá"
NASSER SAIDI
Casa nova
As vendas de imóveis novos residenciais na cidade de São Paulo superaram 7.400 unidades no primeiro quadrimestre deste ano, com alta de 12,5% em relação ao mesmo período do ano passado.
Os números são de pesquisa do Secovi-SP (sindicato da habitação), que também aponta que, de janeiro a abril, foram comercializados R$ 3,6 bilhões, aumento real de 6,9% entre os períodos.
As unidades com até seis meses de oferta, a partir do lançamento, representaram 78,7% das vendas em abril.
Predominam os negócios com imóveis de dois e de três dormitórios. A participação dos dois segmentos foi de 85,6% do total.
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