FOLHA DE SP - 11/06
BRASÍLIA - O escândalo ganhou tal dimensão, e em ritmo tão vertiginoso, que chamá-lo de Cachoeiragate já deixou de ser razoável.
As ramificações do esquema criminoso vão muito além das casas clandestinas de jogo do bicheiro.
Não se limitam à rede de arapongas e políticos, estrelada pelo ex-arauto da moralidade Demóstenes Torres e dedicada a zelar pelos interesses de Carlinhos Cachoeira em Brasília. Nem à derrama de subornos para conseguir contratos e cargos nos governos do Centro-Oeste.
Sabe-se agora que o bicheiro era, na verdade, o braço regional de uma quadrilha que atuava em todo o país com o objetivo de fraudar licitações e sugar dinheiro público.
A Delta era a ponta de lança. De sua matriz saíam ordens de pagamento para o propinoduto goiano. Ficou claro, porém, que a empreiteira operava outras filiais. No Rio, suspeita-se da "gangue do guardanapo" e do próprio governador.
Mas a revelação mais elucidativa foi feita na semana passada, sem merecer a atenção devida -o feriado encurtou a semana do Congresso.
Trata-se de relatório do Ministério da Fazenda sobre a movimentação financeira da Delta. Ele aponta cerca de R$ 115 milhões em transações atípicas e, principalmente, dedura um grupo de empresas de fachada. Subcontratadas para tocar as obras, elas aparentemente nada faziam além de emitir notas frias para esquentar os montantes desviados.
Mais 1: a mesma teia de laranjas aparece em projetos do PAC da Copa, do PAC da Mobilidade, do PAC do etc. Mais 2: essas firmas fantasmas foram empregadas também por outras construtoras grandes. Mais 3: seus pagamentos e saques cresceram em períodos eleitorais.
O laranjal é (ou deveria ser) a nova fronteira das investigações. No varejo e no atacado, ele aponta para um amplo esquema multipartidário de corrupção e a sujeição do sistema político ao crime organizado.
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