SÃO PAULO - Acaba de ser lançado nos EUA o instigante livro "A Honesta Verdade Sobre a Desonestidade", em que o economista comportamental Dan Ariely escarafuncha nossas pequenas trapaças do dia a dia. Ele chega a conclusões profundas, que deveriam nos fazer repensar boa parte do sistema de Justiça.
No paradigma clássico, que Ariely batiza de Smorc, acrônimo inglês para Modelo Simples de Crime Racional, três fatores influem na decisão de cometer ou não um delito: benefício esperado, probabilidade de ser apanhado e pena cabível. É nesse tripé que se assenta o direito penal.
A dificuldade é que esse modelo não funciona. O pesquisador e seus colaboradores desenvolveram uma série de experimentos nos quais estudantes que resolvessem rapidamente problemas matemáticos seriam remunerados pelo número de acertos. Manipularam as situações para descobrir quais variáveis levavam as cobaias a burlar mais. Descobriram que quase todo mundo tapeia e que aumentar o valor da recompensa não muda quase nada.
Para os pesquisadores, nossa desonestidade é o resultado de uma contínua negociação entre dois elementos. De um lado, gostamos de obter vantagens (para nós, nossos próximos e, surpreendentemente, também para desconhecidos). De outro, precisamos manter para nós mesmos a imagem de que somos razoavelmente honestos, como convém a toda pessoa digna. O cérebro resolve essa contradição de uma maneira quase infantil: roubamos só um pouquinho. Na média, as pessoas se sentem confortáveis trapaceando em algo entre 10% e 15%.
Desde que não extrapolemos nos cambalachos, nossa incrível capacidade de racionalizar faz com que nos beneficiemos do logro e ainda consigamos nos ver no espelho como seres humanos maravilhosos.
Para os detalhes das descobertas, os limites desse tipo de pesquisa e suas implicações, vale conferir a obra.
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