FOLHA DE SP - 27/06
Projeções sobre PIB brasileiro não param de cair; economia nacional sofre os efeitos de novas restrições externas e antigas deficiências internas
Caem as projeções para o crescimento do PIB. A última edição do relatório Focus, com a média das opiniões de economistas do mercado colhidas pelo Banco Central (BC), indicou alta de 2,18% no PIB de 2012, contra 3% há um mês.
Já são comuns projeções de 1,5%, ou menos (a depender do desenrolar da crise europeia). Classificadas como "piada" pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, tais projeções já parecem mais críveis que a ministerial, estacionada na vizinhança de irreais 3,5%.
Há muitas razões, externas e internas, para expectativas tão pífias: esgotamento, ainda que temporário, do ciclo de endividamento das famílias; baixo crescimento da produtividade; problemas para alavancar investimentos públicos e privados; infraestrutura pobre; asfixia tributária; e custos de produção muito acima da concorrência.
Nenhum desses problemas é novo, mas, no quadro atual, todos parecem ainda mais limitantes. O crédito, depois de incorporar dezenas de milhões de brasileiros ao mercado, não apenas deixou de ajudar como agora parece atrapalhar o consumo.
Pesquisa recente da Fundação Getulio Vargas mostra que 23,4% das famílias com renda mensal de até R$ 2.100 devem mais da metade do que ganham. A inadimplência superior a 30 dias nesse segmento atinge 19,1%. O BC indica que calotes de pessoas físicas e empresas atingiram 6% do total de empréstimos, novo recorde.
Do lado dos custos, o grande choque ocorreu a partir de 2008, quando o governo federal deu curso a uma política fiscal e salarial expansiva, sem cuidar de remover gargalos que emperram a produtividade. Não é surpresa, pois, que a estagnação da indústria já tenha há muito deixado de ser conjuntural -a produção do setor permanece próxima do nível do final de 2007.
Há também fatores externos. A década de 2000 trouxe grande salto na globalização da produção, com a acelerada incorporação da China no comércio mundial após sua adesão à OMC em 2001. Associada a esse fenômeno houve a explosão de crédito nos países ricos (e na própria China), que agora cobra o seu preço e abala a saúde financeira de bancos e governos.
Nos países emergentes, o impacto crucial se deu sobre os preços de commodities -eles mais que dobraram entre 2002 e 2010. No Brasil, a valorização das exportações trouxe um aumento de renda, que nos momentos mais favoráveis atingiu 2,5% do PIB ao ano. Tal movimento agora cessou.
O mundo todo sofre uma freada de arrumação, cujo efeito deve se prolongar. Para o Brasil fica a lição de que o estímulo ao consumo -como se prevê para algumas das medidas a serem anunciadas hoje- pouco alterará o panorama.
Neste mundo menos exuberante, a disputa pelo que resta de demanda será cada vez mais feroz. O país precisa urgentemente de uma agenda mais ousada, que contemple investimento, educação, inovação e produtividade -as verdadeiras fontes de crescimento perene.
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