FOLHA DE SP - 07/06
SÃO PAULO - Lula e o PT têm tratado Marta Suplicy como se a ex-prefeita de São Paulo fosse uma dona de casa dos anos 30. Marta, faça um café para o senhor Haddad. Marta, guarde o paletó do senhor Haddad. Marta, distribua uns panfletos para a campanha do senhor Haddad.
Marta tinha 29% das intenções de voto (Datafolha) quando Lula decidiu substituí-la por Haddad, com 2%. O ex-presidente avaliou que ela não teria chances no segundo turno em razão da rejeição que desperta em grande parte do eleitorado -30% diziam à época que não votariam em seu nome em hipótese alguma.
O problema não está no fato de Marta ter sido preterida, embora possa reclamar que a decisão deveria ter sido do partido, e não de uma única pessoa, ainda que esta pessoa seja Lula. Considerando as últimas eleições, quando ela foi sempre derrotada no final, o raciocínio do ex-presidente faz muito sentido.
O desrespeito à história da petista começa quando Lula e o partido tentam obrigá-la a participar de atos e a percorrer a cidade para apresentar Haddad aos eleitores. Não se obriga ninguém, muito menos uma mulher como Marta, a fazer o que não quer.
Educada para casar, ter filhos e tocar piano, ela estudou psicologia, apresentou, em plena ditadura militar, um programa na TV sobre sexo, foi deputada, prefeita, ministra e é senadora. Nunca teve papas na língua, tampouco se intimidou com o preconceito quando decidiu trocar de marido. Goste-se ou não dela, é uma mulher de brio.
No sábado passado, mesmo dia em que faltou ao lançamento da campanha de Haddad, e foi criticada pelos colegas, a ex-prefeita escreveu um artigo enigmático na Folha.
Fazendo uma citação, disse que "há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas (...) é o tempo da travessia". No texto, ela afirma que as travessias são sempre difíceis, mas que não se chega à outra margem do rio sem respingos. Estaria ela dando algum recado ao PT?
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