O GLOBO - 12/04/12
A CPI é de fato o melhor instrumento para se tentar jogar luz nesses porões, pelo poder que tem de quebrar sigilos e tomar depoimentos. É preciso, afinal, investigar o mais grave caso conhecido de infiltração do crime organizado nas instituições. Ele ainda não é capaz de rivalizar com ocorrências italianas de contaminação da política pelas máfias locais, mas pode ser catalogado na mesma categoria.
Todos os partidos resolveram apoiar a comissão. Seria difícil o Congresso não ter esta reação diante do teor das revelações sobre os pluripartidários contatos de Cachoeira. Mas, como em toda CPI, a situação tentará atingir a oposição e vice-versa. E como estilhaços devem atingir quase todas as legendas, melhor - raciocina-se - participar da CPI.
Pode animar o PT que o governador de Goiás, base de Cachoeira, Marcondes Perillo, seja tucano. E, como já foi avisado que era impossível não cruzar com o bicheiro pelo menos em espaços sociais, esperam-se revelações de ecléticos contatos de Cachoeira. Mas na primeira leva de contaminados pela proximidade com o bicheiro, além de um deputado também tucano (Carlos Alberto Leréia), está um petista (Rubens Otoni) e outro do PP, base do governo (Sandes Junior).
O potencial de estragos é tamanho que o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), já teve de afastar o chefe de gabinete, Cláudio Monteiro, também apanhado pelos grampos da PF em conversas comprometedoras com a turma do bicheiro. Até no gabinete da ministra Ideli Salvatti já houve mal-estar, com a revelação da proximidade entre o chefe de Assuntos Federativos da pasta, Olavo Noleto, do PT goiano, e Wladimir Garcez, considerado o principal auxiliar do bicheiro. Tudo isso antes de a CPI ser instalada. Por enquanto, o PT segurou Noleto.
Prometem-se momentos de especial tensão. Até pelo tempo que Carlinhos transita nos subterrâneos da política. Lembremo-nos do vídeo gravado em 2002 em que ele é achacado por Waldomiro Diniz, então presidente da Loterj, futuro assessor de José Dirceu na Casa Civil do governo Lula. Naquela época, já existiam intensas negociações, com a participação do PT, para a legalização do jogo, em particular bingos e caça-níqueis, especialidade dos neobicheiros como Carlinhos. Ao ser divulgado o vídeo, em 2004, pela "Época", foi abortada uma operação para o Congresso abençoar a jogatina. Mas este objetivo continua a ser perseguido.
Volta-se a lembrar a antiga regra das CPIs: sabe-se como começa, não se sabe como termina. Se os desdobramentos desagradarem ao Palácio, o governo, com sua maioria, esvaziará as investigações, como já fez algumas vezes. Será um desfecho ruim, pois a CPI de Cachoeira pode ajudar na faxina da vida pública, com dedetizações em todos os partidos.
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