FOLHA DE SP - 12/04/12
Os bancos privados dizem que querem contrapartidas antes de mexer nos seus juros. O governo quer resultado imediato, até porque o estopim do novo rebuliço sobre "spreads" foi o baixo crescimento da economia neste início do ano. O governo atribui parte do marasmo econômico à alta dos juros médios na praça, que vem desde novembro.
Mesmo que o governo adotasse as medidas sugeridas pelos bancos com o fim de baixar o custo do crédito, levaria tempo para que tais providências surtissem efeito, se mesmo eficazes. Ou melhor, uma proposta dos bancos poderia ter eficácia quase imediata. Trata-se da redução de impostos sobre a intermediação financeira. Mas se dá de barato, aqui e em Brasília, que tais impostos não baixarão tão cedo.
Logo, ou vai haver confusão ou muito barulho por nada, excetuada a hipótese de os bancos privados se comoverem com a "liquidação de juros" promovida por Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Isto é, se Itaú, Bradesco e cia. muito limitada considerarem que não vão perder dinheiro se baixarem suas taxas a fim de não perder mercado.
Pode bem ser que os juros para o tomador final sejam altos devido à baixa concorrência nesse mercado. Mesmo que seja o caso, talvez os cortes brutais das taxas do BB e da CEF não bastem para acirrar a competição (por ora não se sabe nem mesmo o volume dos novos negócios com juros reduzidos). De qualquer modo, com ou sem razão, a atitude do governo não é lá muito esperta e é obnubilada outra vez por voluntarismos de curto prazo.
É evidente que garantias melhores, regras mais seguras para execução de dívidas, menos impostos e outras melhorias nas tecnicalidades desse mercado contribuiriam para a baixa de "spreads" e juros. Basta ver o que aconteceu com as condições de financiamento de carros e imóveis, que melhoraram brutalmente com algumas medidas inteligentes e de baixíssimo custo.
O governo poderia fazer um "bem bolado" com a banca, implementar logo reformas, exigir alguma contrapartida da finança, melhorar a proteção ao cliente dos bancos (quase inexistente) e faturar o progresso. Por que não o faz é de fato um mistério. Não custa quase nada.
No mais, é preciso lembrar que há empecilhos econômicos reais ao aumento do crédito, sejam os "spreads" altos ou baixos. O estoque de crédito tem crescido a quase 15% ao ano, em termos reais, na última meia dúzia de anos. Quase nada cresce tão rápido assim, afora o pé de feijão de João (e esse é um dos motivos dos bons lucros da banca).
É possível ainda pisar no acelerador? Primeiro, é preciso haver poupança disponível. Segundo, é preciso haver capacidade de pagamento: que o endividamento de famílias e empresas esteja em nível razoável (e note-se que a inadimplência está alta, e o BC pisou no freio do crédito via medidas "prudenciais"). Terceiro, é preciso haver oferta, capacidade produtiva. Ou vamos tomar empréstimo para importar carros, gadgets e insumos?
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