FOLHA DE SP - 12/04/12
Congresso prepara inquérito sobre caso Cachoeira; PT vê chance de neutralizar processo do mensalão no Supremo, mesmo com riscos
Após um longo período de acomodação com o Executivo, a cúpula do Congresso anunciou uma CPI para o caso Cachoeira.
A acomodação política vinha desde o segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O vendaval do mensalão cedeu lugar à calmaria da economia aquecida e da popularidade ascendente. O marasmo prosseguiu com a sucessora Dilma Rousseff, em que pesem as relações tensas da presidente com a base aliada.
As águas se agitaram com a volta à cena do personagem que deu partida na série de denúncias de corrupção do primeiro governo do PT: Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Em 2004, ele divulgara gravação em que Waldomiro Diniz -assessor do então ministro José Dirceu- lhe pedia propina, dois anos antes. Foi a senha para uma sucessão de CPIs.
Agora as relações de Cachoeira -preso sob acusação de explorar jogo ilegal- destruíram a reputação do senador Demóstenes Torres, recém-saído do DEM, que brilhava entre conservadores como crítico implacável do PT. Na teia de Cachoeira também foi apanhado o governador Marconi Perillo (PSDB-GO), outra figura da oposição.
O novo cenário aguçou o apetite petista por retribuir na mesma moeda as investidas que o partido sofreu anos atrás.
Não é o caso de mera vingança, contudo; há uma dose de cálculo na adesão da cúpula do PT à CPI. Ela proveria um anestésico para a reabertura das feridas do mensalão no Supremo Tribunal Federal.
A Corte, de fato, parece inclinada a julgar ainda neste ano o alentado processo de corrupção e com ele melhorar a imagem do Judiciário. Em paralelo com a campanha eleitoral, o julgamento traria danos sérios ao PT. Uma CPI com a oposição na berlinda viria a calhar.
O trunfo deve ser de grande valor, pois o PT se arrisca a criar turbulência indesejável para o governo Dilma Rousseff, com a CPI, e a pôr na mira da investigação até um governador seu -Agnelo Queiroz (DF)- ou outros aliados porventura próximos de Cachoeira.
Não é improvável que uma CPI, com acesso a gravações e movimentos bancários ora protegidos por segredo judicial, termine por enredar outras legendas e autoridades. As direções do Senado e da Câmara, ao concordar com o inquérito, parecem confiar na capacidade de controlá-lo -ou quem sabe fazer dele mais um espetáculo sem resultado ou conclusões.
Nunca se sabe, contudo, como as CPIs terminam, segundo reza o ditado brasiliense. O Congresso, mesmo que não queira, ainda pode surpreender a opinião pública.
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