quinta-feira, abril 12, 2012

O que os EUA têm a oferecer - ALBERTO TAMER


O Estado de S.Paulo - 12/04/12


A visita da presidente Dilma Rousseff aos Estados Unidos pode ser interpretada como tendo mais um significado político do que econômico. É a reaproximação de dois países americanos depois dos confrontos criados pelo governo anterior.

Pouco havia para decidir na área comercial, que apesar dos déficits e superávits cíclicos, "está equilibrada", como lembrou o ministro Fernando Pimentel que considera o caso Embraer como "pontual."

O que houve em Washington foram sinais claros de uma reaproximação, que revelam uma nova política de relação externa do Brasil menos inutilmente conflituosa e isolacionista. Parece terem sido superados os confrontos - na verdade crise - provocados pela desastrosa e obtusa "diplomacia" brasileira do governo anterior. Lula, inspirado por Celso Amorim - de longe o pior ministro das Relações Exteriores que o Brasil já teve -, e no auge da crise nuclear com o Irã, foi abraçar Ahmadinejad e chamá-lo de "meu amigo". Isso quando todo o mundo ocidental condenava o Irã que caminhava para a produção de bombas atômicas com o principal objetivo, afirmou muitas vezes o líder iraniano, de destruir, arrasar e tirar Israel da face da terra.

As relações entre o Brasil e os EUA esfriaram, o Itamaraty dominado pelo terceiro-mundismo das cavernas, evitou qualquer acordo comercial com os EUA, de longe o principal parceiro comercial do Brasil. Pode-se falar da China, mas ela pratica o que se pode classificar como política de comércio exterior "colonial".

Mudou com Dilma. A presidente está revertendo essa política de confronto que pretendia beneficiar um país, o Irã dos aiatolás. A reaproximação gradual com os Estados Unidos no governo Dilma já apresentou resultados políticos. Barack Obama a recebeu "como líder e amiga". Afirmou que o Brasil está se tornando "um líder não apenas na região, mas s também no mundo".

O que os Estados Unidos oferecem não é só comércio e investimento. Há algo mais importante, bolsas em suas universidades laureadas com dezenas de prêmios Nobel, ensino superior e técnico para estudantes brasileiros, base futura de transferência de tecnologia e inovação.

Brasil atrasadíssimo. É esse o grande campo ainda inexplorado pelo País. O Brasil perdeu um tempo precioso no governo passado, que quase nada fez nessa área. Por ordem expressa de Obama, a secretária de Estado Hillary Clinton chega a Brasília na próxima segunda-feira, apenas quatro dias após o término da visita a Washington. Ela não traz acordos comerciais na bagagem nem promessas de muitos investimentos. O que ela traz, além das convencionais conversas diplomáticas, é o que Dilma pretende, facilidade para estudantes nas universidades americanas com o apoio dos dois governos. "O Brasil sabe o quanto é importante uma nação investir na educação de seu povo. Já recebemos 700 brasileiros para estudar nos Estados Unidos e esperamos milhares mais nos próximos anos", afirmou esta semana, ao referir-se ao programa Ciência sem Fronteiras. O Ministério da Educação já concedeu 550 (!!) bolsas este ano para cursos em universidades americanas, e pretende criar mais mil bolsas até o fim do ano. A meta é dar 75 mil bolsas até 2014 a um custo estimado em R$ 3,2 bilhões. É um começo auspicioso, mas ainda pouco diante do que o País precisa e os Estados Unidos podem oferecer.

Vejam a China. A China tem 158 mil estudantes nas universidades americanas, um aumento de 22% nos últimos dois anos. Incluindo a Índia e Coreia, são 720 mil. Ao todo, foram milhões desde a reforma chinesa, nos últimos dez anos. Mais da metade retorna para a China, incorporando conhecimento em economia, finanças, engenharia, eletrônica, tudo o que podem aprender financiado pelo governo. Isso explica em grande o crescimento médio de 9% ao ano e o espantoso avanço industrial. É isso o que o Brasil precisa com extrema urgência e os Estados Unidos podem oferecer mesmo porque esses estudantes rendem US$ 21 bilhões para as universidades americanas, quase todas privadas.

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