O GLOBO - 10/04/12
Uma das normas seguidas por articulistas de algum talento e outro tanto de experiência determina que caprichem na variedade dos assuntos que abordam. Profissionais de uma nota só cansam a paciência do leitor - e leitor cansado logo deixará de ser freguês de seus textos. O que representa sério risco para a carreira profissional dos cronistas de um tema só.
Como é óbvio, este prudente introito tem apenas uma razão de ser: este articulista, com algumas décadas de ofício, mas de rarefeito talento, vai mais uma vez comentar hábitos e costumes comuns nos Senadores da República. Uma vez só, prometo.
Lá vai: discutamos - a partir de revelações do jornal de domingo - as peculiares relações entre esses legisladores e seus suplentes. Diferentemente do que acontece na Câmara dos Deputados, os substitutos eventuais não são candidatos menos votados do que os titulares: fazem parte de suas chapas. Ninguém vota neles. A escolha do suplente obedece a um leque de critérios interessantes. Muitas vezes são cônjuges ou filhos dos titulares; mas também podem ser ricos cavalheiros que - com certeza por dever cívico - contribuíram financeiramente para a eleição do Senador.
A escolha do parente foi explicada, pelo menos num caso, com um argumento bastante compreensível: ela evitaria que o suplente torcesse - ou, sabe-se lá, tomasse alguma providência mais substantiva - pelo fim súbito da carreira legislativa do titular. É claro que essa hipótese existe apenas teoricamente: não há qualquer registro disso.
Os suplentes sem laço de parentesco são, quase todos, financeiramente muito bem dotados para ajudar a eleição do titular. Curiosamente, são escassos os registros de suas contribuições em dinheiro para a vitória nas urnas. É o caso, por exemplo, do segundo suplente do líder do governo no Senado - empresário com fortuna estimada em 1,52 bilhão e uns trocados. Não há registro na Justiça Eleitoral de que tenha doado um tostão furado para ajudar a eleição da chapa que levava o seu nome. Vai-se ver, ajudou apenas com conselhos e sugestões.
Há o caso de um suplente que assumiu o mandato do filho por quatro meses.
Gastou mais de R$ 90 mil de dinheiro do Senado para divulgar a sua atuação na Casa. E fez um discurso no plenário defendendo surras de chicote em presos que se recusam a trabalhar.
Sejamos justos: nem todos são assim. Mas é óbvio que os mecanismos da suplência de mandatos legislativos merecem alguma revisão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário