O ESTADÃO - 15/04/12
A criação da CPI do Cachoeira produziu nos bastidores de Brasília uma semana de intensas discussões sobre sua lógica política - da forma como esta é exercida pelas agremiações partidárias no país. A leitura mais corrente é a de que o PT, feita uma espécie de relação custo/benefício, concluiu que tem mais a ganhar do que a perder com a investigação das ligações públicas e privadas do jogo clandestino.
Perderia, de pronto, um governador - Agnelo Queiroz, do DF -, mas produziria estragos no rival aliado, o PMDB, e, principalmente, relativizaria a gravidade do mensalão, prestes a ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Na pior das hipóteses, em ano de eleições municipais não seria o único partido sob julgamento por desvios políticos e legais.
Nada disso, porém, tem consistência para explicar a razão de um governo e seu partido comemorarem uma CPI - instrumento, por origem, da minoria, pela primeira vez instalado por iniciativa da maioria. É ilusão acreditar que a CPI possa se contrapor ao mensalão - ambos caminharão paralelos ampliando a ação saneadora sobre modos e costumes políticos de há muito condenados pela sociedade.
O que, de fato, o PT espera é que a CPI alcance o Judiciário e mine sua credibilidade como julgador dos crimes políticos do partido. Outra ilusão, porque o eventual envolvimento de uma autoridade não compromete todo o Poder.
Nos últimos dias, os petistas parecem ter se dado conta de que deram um "tiro no pé", conforme já sussurram pelos corredores do Congresso. A boa notícia é que a "trapalhada" serve ao País, que ganha com as investigações .
Gilmar Mendes,o alvo do PT
O PT alimenta a expectativa de explorar as relações pessoais do senador Demóstenes Torres (GO) com o ministro Gilmar Mendes, do STF, cuja enteada já trabalhou como funcionária no gabinete do parlamentar. Nesse elo, do qual o PT aspira extrair mais alguma coisa, estaria o embrião para arguir o impedimento do ministro no julgamento de Demóstenes no tribunal. E, por extensão, questionar sua credibilidade como julgador do mensalão, no qual é voto certo contra os interesses do partido.
Tiro n’água
Uma semana antes da decisão de criar a CPI do Cachoeira, a ministra Ideli Salvatti era uma das mais entusiasmadas defensoras da investigação. Numa reunião na casa de Jilmar Tatto, ela pediu a CPI alegando que nada respingaria no governo. O encontro
reuniu petistas insatisfeitos com o afastamento de Candido Vaccarezza da liderança do governo. Dias depois, o assessor da Presidência Olavo Noleto seria flagrado nos muitos grampos da Polícia Federal.
Na berlinda
Durante a reunião no gabinete de José Sarney (PMDB-AP) para discutir a CPI do Cachoeira, o líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA), alardeava aos presentes que pediria a convocação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Um
dos objetivos do PT, com a investigação, é tentar desestabilizar o Judiciário, às vésperas do julgamento do mensalão. Gurgel segurou por dois anos o pedido de investigação de Demóstenes Torres no Supremo.
Coisas do passado
Cotado para o Ministério do Trabalho, Vieira da Cunha (PDT-RS) relatou a CPI que investigou ligações do PT com o jogo do bicho no Rio Grande do Sul em 2001 e atingiu o governo Olívio Dutra – quando Dilma Roussef era secretária de Minas e Energia – e contribuiu para a derrota do partido no ano seguinte para a aliança PMDB-PSDB. Dilma trocou o PDT pelo PT no ano da CPI.
“Paciência, ele sabia dos riscos”
Presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS)
SOBRE A AMEAÇA DA CPI AO GOVERNADOR AGNELO QUEIROZ (PT-DF)
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