quarta-feira, abril 04, 2012

Homens probos - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 04/04/12


SÃO PAULO - Demóstenes Torres surgiu para a política tentando firmar-se como o Catão, o Moço, de nossa República: senador com ideias conservadoras, mas patologicamente íntegro e incorruptível.

Não deu certo. Quanto mais descobrimos sobre suas relações com Carlinhos Cachoeira, mais seus feitos pretéritos cheiram a hipocrisia. Ele entra assim para o clube dos que foram apanhados fazendo o contrário do que pregavam, cujos sócios mais ilustres são políticos e religiosos.

Embora isso não seja muito cristão, adoramos ver moralistas caindo em desgraça por exibir as falhas morais que condenavam. Como observa o psicólogo Jonathan Haidt, experimentamos, quando contemplamos sua queda, a emoção do desprezo, que faz com que nos sintamos melhores do que eles. E isso é gostoso.

Mas é bom tirar esse sorriso de superioridade da cara. Vários experimentos psicológicos recentes confirmam as advertências dos sábios de que somos todos hipócritas.

Um exemplo: quando voluntários tiveram a chance de decidir se seriam eles mesmos ou um parceiro quem ficaria na posição mais vantajosa, metade deles se dispuseram a ser justos e usar uma moeda para tirar a sorte. Dos que não fizeram cara ou coroa, 90% escolheram para si próprios o posto privilegiado. A surpresa é que, entre os que jogaram a moeda, também foram 90% os que acabaram ficando com a parte do leão. É como se as leis da probabilidade tivessem sido milagrosamente suspensas.

A ideia que emerge desses experimentos é que, dispondo de invisibilidade (impunidade assegurada) e de um vestígio de razão moral em que possamos nos apoiar (negação plausível), a maioria de nós trapaceia.

A má notícia para Demóstenes é que, mesmo que ele tenha sido apenas humano, zombar de sua situação e puni-lo são uma necessidade. Sociedades só são estáveis quando castigam os que tentam se dar bem sem pagar sua parte na fatura.

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