segunda-feira, abril 16, 2012

Febraban, Fiesp e as broncas de Dilma - SERGIO LEO

VALOR ECONÔMICO - 16/04/12


Estaria resolvida a crise com aliados no Congresso, se o governo decidisse usar, para atender a emendas parlamentares, R$ 1 bilhãozinho que fosse de seu saldo recorde de fevereiro nas contas primárias (receitas menos despesas, excluindo-se as contas financeiras, de juros).

Mas o dinheiro foi garantir superávit e reduzir as contas com a dívida pública, abrindo caminho para a redução dos juros, que, agora, esbarra na teimosia dos bancos. Esse raciocínio poderia ser ouvido, na semana passada, por algum curioso que, com certa dose de coincidência, colasse o ouvido em algumas das divisórias de madeira do reformado Palácio do Planalto.

O esforço de criar condições fiscais para baixar os juros tem batido de cara na sólida resistência dos bancos privados em reduzir o custo financeiro para a sociedade, argumenta a equipe econômica de Dilma. Por isso, o nome do presidente da Federação Brasileira dos Bancos, o educadíssimo Murilo Portugal, tem sido acompanhado de adjetivos impublicáveis, nos últimos dias, quando mencionado por vozes do governo. Portugal levou ao Planalto as demandas dos bancos para baixar os juros na ponta, e fez declarações públicas que pioraram o já folclórico mau humor da presidente.

Portugal, eficiente e disciplinado em sua passagem pelo governo como Secretário do Tesouro, nada mais fez agora do que traduzir em bom português a disposição do setor financeiro, que levou 12 reivindicações ao governo, entre elas a diminuição dos impostos e da retenção compulsória de depósitos.

Para o setor, seria contra a "lógica do mercado" mexer no lucro bancário, que Portugal admitiu representar 30% do spread, taxa que remunera os bancos - e que, segundo o Banco Central, soma 34%, mais de um terço do spread - nos bancos privados.

Mercado generoso esse, que embute no preço de uma mercadoria (no caso, os juros sobre empréstimos), lucro de mais de um terço. Ao se insurgir contra essa lógica, o governo alega que está exercendo o poder que tem sobre parte desse mercado para forçar uma redução em favor do restante da economia.

Tem apoio de especialistas insuspeitos, como mostrou recente entrevista, ao "Estado de S. Paulo", de Luis Carlos Schymura, da Fundação Getulio Vargas. E da história: na eclosão da crise financeira, quando os bancos retraíram-se, o governo adotou estratégia semelhante, foi brindado com profecias de fracasso e, no entanto, Banco do Brasil e Caixa sistematicamente registraram índices de inadimplência baixos, em alguns momentos até menores que a média do mercado. Com o aumento atual da inadimplência, os bancos públicos continuam com boa performance, desautorizando pessimismo.

Como disse honestamente Portugal, "a bola está com o governo", na opinião dos bancos, que esperam resposta a suas demandas. O governo vê o jogo de ângulo diferente, e, veladamente, ameaça medidas mais drásticas contra os juros altos, caso a banca privada não se mexa para baixar o custo dos empréstimos, refletindo a queda dos juros básicos e da inflação.

A plateia será brindada, nos próximos dias, com muito jogo de cena: previsões alarmistas de inadimplência pelos bancos (algumas já pipocam nos jornais), que reforçam assim argumentos pelos juros escorchantes de mais de 60% ao ano; e declarações agressivas do governo, arriscando nervosismo nos mercados.

O governo tem limites para interferir nas decisões dos bancos públicos. Nada indica que já os tenha extrapolado.

Ocupada no cabo de guerra com o setor financeiro, a presidente Dilma busca estreitar laços com a indústria, apavorada pela perda crescente de competitividade e de receitas. Nesse outro jogo, tem sido notada cada vez mais frequentemente a ausência de uma das principais estrelas do time industrial, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Na sexta-feira, na cerimônia da CNI em que criticou mais uma vez os spreads bancários, Dilma anunciou parcerias com a indústria em uma de suas meninas dos olhos, o Pronatec, programa de qualificação de mão de obra em que o BNDES investirá R$ 1,9 bilhão. Não escapou à presidente o espaço em branco sobre São Paulo, no mapa em que mostrava iniciativas das federações de indústrias em apoio ao programa acalentado no Palácio do Planalto.

Assim como Portugal, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf já havia ajudado a azedar o humor acre da presidente, durante outro evento, o anúncio, no Planalto, das medidas adicionais ao plano Brasil Maior, no início de abril. Enquanto executivos se refugiavam em elogios, Skaf foi o único a dizer o que pensava boa parte dos líderes empresariais, criticando como insuficientes as medidas de apoio à indústria.

"Apenas baixaram uma febre de 40° para 38,9° ", desdenhou. A metáfora e outros sinais, como o desinteresse pelo Pronatec, inflamam os ânimos dos que, no governo, identificam com irritação um obstinado comportamento oposicionista no presidente da Fiesp, executivo com pretensões políticas, filiado ao PMDB do vice-presidente Michel Temer. Nos vestiários da indústria, porém, não consta que Skaf venha recebendo críticas de seus pares por isso.

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