terça-feira, abril 03, 2012
Da Petrobrás para a Petrobrás - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 03/04/12
Com o rápido aumento da frota de veículos e a quebra na produção de etanol nos últimos anos, o consumo de gasolina no Brasil em janeiro deste ano foi de 493 mil barris por dia, 36% acima do mesmo mês do ano passado. Em vista desse aumento, a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) apresenta agora em separado, em suas estatísticas, o quadro de importação de gasolina. Verifica-se assim que, no primeiro bimestre deste ano, as importações do produto custaram US$ 566,72 milhões, podendo superar US$ 3 bilhões ao fim deste ano. A Petrobrás produz 85% da gasolina consumida no País e importa outros 15%, segundo o diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, que informou que essa dependência de importações só será definitivamente superada a partir de 2013, quando deve entrar em operação a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Essa unidade, no entanto, não vai produzir gasolina, mas diesel, querosene de aviação (QAV) e gás liquefeito de petróleo (GLP). Liberará, entretanto, outras refinarias para produzir maior volume de gasolina.
A previsão soa otimista, tendo em vista o aumento do consumo de gasolina e a persistência dos problemas não resolvidos quanto ao etanol. A presidente da Petrobrás, Graça Foster, disse recentemente à Folha de S.Paulo que a empresa gostaria de ter menor exposição à gasolina, mas não encontra etanol a preços razoáveis. "Agora, neste ano de 2012, como em 2011", disse ela, "estamos sendo punidos pelas próprias transações do mercado. A Petrobrás entra no mercado, e o que está valendo 10 vira 15. Por 15, não retorna o capital empregado e a gente não vai entrar de cabeça para perder dinheiro em hipótese alguma."
Além disso, há atrasos na construção de quatro refinarias programadas. Na Abreu e Lima, as obras avançam, mas há ainda pendências quanto à participação da Petróleos de Venezuela (PDVSA). A refinaria do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro deveria entrar em funcionamento em 2015, mas deve atrasar com o corte no orçamento de investimentos da Petrobrás. Em situação semelhante estão as Refinarias Premium l, no Maranhão, e Premium 2 no Ceará, previstas agora para 2019.
Para reforçar sua atuação no setor, a Petrobrás decidiu, em anos anteriores, adquirir refinarias já prontas no exterior, de onde provém uma parte de suas importações de combustíveis. Segundo o jornal Valor (28/3), para atender à demanda de sua controladora no Brasil, a refinaria Petrobrás América, instalada em Pasadena, no Texas (EUA), adquirida em 2010 da Astra Oil Trading, vai aumentar em duas vezes e meia as suas vendas de gasolina para o Brasil, que deverão alcançar 9 milhões de barris este ano, em comparação com 3,5 milhões de barris em 2011. As exportações de diesel também vão mais que dobrar, passando de 3,6 milhões para 8 milhões de barris. Essa refinaria utiliza petróleo mais leve, dos EUA, Nigéria e Angola.
A unidade de Pasadena tem capacidade de processar 100 mil barris de combustíveis por dia, capacidade igual à refinaria que a Petrobrás possui em Okinawa, comprada da Sumitomo em 2008, a única refinaria estrangeira no Japão. Outra refinaria da estatal brasileira está instalada em Bahía Blanca, na Argentina, adquirida em 2001 da Repsol YPF, com capacidade de 30 mil barris diários.
O fato de essas refinarias processarem petróleo leve não significa que o óleo pesado produzido no Brasil não encontra mercado no exterior. Os EUA absorveram 40% das exportações brasileiras de petróleo no ano passado, tornando-se individualmente o maior cliente da Petrobrás.
Essa situação mostra que, na realidade, o Brasil não atingiu a autossuficiência em petróleo. Depois de décadas de esforço, o País se tornou um exportador líquido de petróleo em bruto, mas continua altamente dependente de gasolina importada, o derivado que mais consome.
Como já vai se tornando cada vez mais comum, o Brasil avança na exportação de produtos primários, mas tem ainda dificuldades de se firmar como exportador de produtos com maior valor agregado, e a área de derivados de petróleo, como se vê, não é exceção.
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