O GLOBO - 25/03/12
O desembargador Ivan Sartori, presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, é um defensor de sua Corte. Pena que em algumas formulações enfraqueça a própria causa.
Em entrevista à repórter Laura Diniz, Sartori queixou-se dos vencimentos da magistratura:
"Quanto ganha um alto executivo numa empresa privada? Oitenta mil reais por mês. Quanto ganha o presidente da Petrobras? Deve ser mais de 45.000 reais por mês. O juiz ganha 24.000 reais. (US$ 173,3 mil anuais). Não é um salário à altura do cargo".
Um executivo de grande empresa brasileira ganha em torno US$ 450 mil anuais. Eles têm contratos individuais. Empresário que dá desfalque pode ser demitido, juiz que vende sentença é aposentado, com vencimentos.
Num exemplo buscado na corporação de Sartori, à sua "altura", os juízes da Corte Suprema de Nova Iorque têm salários de US$ 174 mil anuais equivalentes aos mesmos R$ 24 mil mensais do doutor.
Na semana passada Sartori achou que uma parte do problema do Tribunal está na imprensa: "Eu vou falar. Temos o Conselho Nacional de Justiça e vocês não querem o Conselho Nacional de Jornalismo. Ia ter mais responsabilidade". "Vocês" quem, cara pálida? Os jornalistas não são funcionários públicos, nem ocupam posições inamovíveis numa carreira vitalícia. O conselho a que Sartori se refere teria o propósito de "orientar, disciplinar e fiscalizar" a atividade dos jornalistas. Defina-se "orientar". O CNJ não orienta os tribunais. Poucos jornalistas defendem a criação desse conselho e muitos acham bem-vinda a ideia da criação de um órgão, público ou, preferencialmente, privado, capaz de sancionar profissionais e empresas de comunicação. O pior dos mundos seria aquele em que, existindo um Conselho Nacional de Jornalismo, o presidente de um Tribunal pudesse acioná-lo para "orientar" o noticiário.
Tudo ficará melhor quando a luz do sol bater na lista dos desembargadores de todos os estados que receberam indenizações antecipadas. Com os nomes, os valores e as taxas de juros que os produziram.
Para o ego de Lula
Algum companheiro poderia traduzir para Lula trechos do livro "Why Nations Fail" ("Por que Nações Fracassam - As Origens do Poder, da Prosperidade e da Pobreza"), dos economistas Daron Acemoglu (MIT) e James Robinson (Harvard). Ele acaba de sair nos Estados Unidos, com o e-book a US$ 14,99, elogiado por Steven Levitt ("Freakonomics") e Jared Diamond ("Armas, Germes e Aço"), além de cinco economistas laureados com o Nobel.
Acemoglu e Robinson procuram mostrar porque alguns países vão para a frente e outros para trás. Os trechos que podem interessar a Lula terão um efeito sobre sua alma, capaz de reduzir o sofrimento de várias sessões de quimio e radioterapia. Seriam um bálsamo também para o ego de Fernando Henrique Cardoso, mas ele jamais precisou disso. Eles servirão também para petistas que acreditam ter tirado o país do inferno e tucanos certos de que a ele se está retornando. Um trecho:
"A ascensão do Brasil desde os anos 70 não foi arquitetada por economistas de instituições internacionais que ensinaram aos seus governantes as melhores políticas para evitar as falhas do mercado. Também não foi conseguida com injeções de ajuda externa. Ela resultou da ação de grupos de pessoas que, corajosamente, construíram instituições econômicas inclusivas. A transformação brasileira, como a da Inglaterra no século XVII, começou com a criação de instituições políticas inclusivas. (...) No Brasil, ao contrário da Inglaterra do século XVII e da França do final do XVIII, não foi uma revolução que disparou a transformação das instituições políticas".
Uma pista para a imprensa de papel
Um estudo do instituto americano Pew informa: "Um número crescente de executivos prevê que dentro de cinco anos muitos jornais circularão em papel somente aos domingos".
No outros dias servirão aos leitores em edições eletrônicas.
É impossível prever o futuro dos meios impressos, mas talvez esteja aí uma boa pista. Em 2007, Arthur Sulzberger, dono do The New York Times, disse o seguinte: "Eu não sei se daqui a cinco anos estaremos imprimindo o Times. Quer saber? Não me importo com isso".
Passaram-se os cinco anos, ele investiu na versão do jornal na Internet, e hoje a empresa, que controla também o Boston Globe e o Herald Tribune, tem 406 mil assinantes eletrônicos.
Surpreendentemente, no ano passado a carteira de assinantes do Times dominical impresso subiu 0,2%, depois de cinco anos de queda. Está em 992 mil exemplares. Atribui-se esse movimento ao fato de a assinatura de papel da edição de domingo dar pleno direito à eletrônica, sem custo adicional.
Mais uma vez, o Times sinaliza o futuro. Seu conteúdo não está blindado. O público tem direito a dez artigos mensais e, diariamente, suas principais notícias estão acessíveis na rede. Além disso, está aberto o acesso a textos cujos links foram colocados em redes sociais.
A má notícia vem da Pew: Para cada US$ 10 que o mercado americano de publicidade no papel perdeu, só ganhou US$ 1 no mundo eletrônico. Como as edições dominicais são as mais gordas e versáteis para a publicidade, o gradual desaparecimento das edições impressas nos dias de semana não seria o fim do mundo.
Ala dos compositores
A doutora Dilma reuniu 30 empresários para um evento coreográfico no Planalto.
Tinha gente demais para uma comissão de frente e de menos para uma bateria.
Tremor petista
Se a fiscalização do MEC for adiante na exposição das malfeitorias das universidades privadas, o PT paulista terá um ataque de nervos.
Logo agora, quando está organizando sua campanha eleitoral?
Madame Natasha
Madame Natasha não gosta da livre importação de palavras estrangeiras, mas não é doida a ponto de defender um protecionismo que impusesse palavras como "ludopédio". Algumas expressões prevalecem, como "gol", enquanto outras somem, como "off side", o popular impedimento.
Ela concedeu uma de sua bolsas de estudo às pessoas que importam a palavra "letramento", uma tradução de "literacy". "Letramento" seria o processo de aprendizado da língua. "Aprendizado de um idioma" é apenas um aprendizado. "Letramento" não é nada.
Pode-se avaliar o nível de aprendizado de uma pessoa, assim como pode-se avaliar a consistência de um molho de tomate. Dizer que falta "letramento" a alguém é como dizer que falta "tomateamento" ao molho.
Coincidência
Em agosto de 2009, o senador Demóstenes Torres denunciou espetacularmente que alguém gravara uma conversa sua com o presidente do Supremo, Gilmar Mendes. À época, a Polícia Federal, com autorização judicial, ouvia-o falando com o contraventor Carlinhos Cachoeira. Agora, o repórter Jailton de Carvalho revelou que Demóstenes pediu-lhe que pagasse seu taxi-aéreo (R$ 3 mil).
O grampo da PF está num relatório oficial, o da conversa com Gilmar jamais apareceu.
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