O ESTADÃO - 07/03/12
Ao contrário do que geralmente ocorre no caso das fúrias incontroláveis da natureza - os verdadeiros tsunamis, terremotos e grandes tempestades - a enorme onda de liquidez que tanto aflige o governo brasileiro, e agora os mercados, não foi um evento inesperado. Foi, aliás, mais do que anunciado.
O que mudou, então, para que os mercados revertessem tão rapidamente suas apostas para o próximo Copom? As declarações da presidente, sobre algo que todos já sabiam? As possíveis mudanças nas regras da poupança? O pronunciamento de Tombini sobre o fato de a economia brasileira estar crescendo abaixo do seu potencial?
A economia brasileira cresceu 2,7% no ano passado. Nem mesmo os que têm as visões menos otimistas sobre o crescimento do PIB potencial brasileiro - me incluo entre eles - acham que o ritmo em que o País pode crescer sem gerar inflação é tão baixo assim.
Onde estão os argumentos para a queda mais acentuada nos juros? Decerto não pode serna tentativa de,comisso, erguer uma barreira contra o "tsunami" monetário. Afinal, o diferencial de juros entre o Brasil e os países maduros continuaria brutal, mesmo que o BC decidisse diminuir a Selic em 200 pontos. E os bancos centrais não agem assim.
Considerem, também, o seguinte: o Brasil ainda é, aos olhos dos investidores, um País com boas perspectivas de crescimento. E, ao contrário de outras grandes economias emergentes, é um País onde as regras são bem conhecidas, as instituições são sólidas.
Uma queda rápida e intensa dos juros que gerasse expectativa de forte aceleração do crescimento poderia, paradoxalmente, incentivar entradas de recursos ainda mais substanciais no País. Ao menos no curto prazo, antes de a inflação se acelerar. Será que o Banco Central não considera este risco?
Os desafios de fazer o País crescer de forma sustentada são grandes. Precisamos investir, melhorar a infraestrutura, tornar nossos produtos mais competitivos. Não conseguiremos nada disso com políticas míopes, que fazem pouco além de aumentar a volatilidade e bagunçar a economia. A farra monetária que os mercados estão pedindo - contradizendo o que a presidente diz aos outros para evitar - seria um passo na direção errada.
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