FOLHA DE SP - 19/03/12
SÃO PAULO - A presidente Dilma Rousseff sobreviveu na semana passada ao 15 de março, dia universal da conspiração. Nessa data, há 2.056 anos, uma emboscada terminou na morte de Júlio César, esfaqueado em pleno Senado de Roma.
Um adivinho, diz a tradição, havia prevenido César, em marcha para concentrar o poder na República, sobre os idos de março -o décimo quinto dia do mês, no calendário romano. A data chegou, César hesitou, mas resolveu tocar sua vida normalmente e ir ao Senado.
Encontrando o vidente no caminho, segundo a célebre dramatização de Shakespeare, tentou esnobá-lo: "Os idos de março chegaram". "Ah, César, mas não passaram", devolveu, cínico, o adivinho. Deu-se a seguir a conhecida desgraça.
Melhor para Dilma que os idos de março de 2012 tenham passado. Mas o episódio romano nos lembra que rebeliões na base governista podem acabar mal.
Não falta gente investida nas lides premonitórias a antever problemas sérios para a presidente. Contrariar um Calheiros, um Jucá e um Eduardo Alves agora, avisam, é plantar a tempestade de amanhã.
O trio, vá lá, não está à altura de um Brutus, de um Cássio ou de um Casca. Tampouco os dotes oratórios e literários de seu mentor e presidente do Senado se comparam aos de um Cícero.
Nem sequer a vingança tramada pelos conspiradores parece assustadora. Um sopapo no código florestal, uma rasteira no fundo de pensão dos servidores, uma cotovelada na Lei da Copa. Nada que vá alterar o valor do sestércio.
Se souber conduzir o processo com um mínimo de destreza, Dilma poderá tanger velhos oligarcas brasileiros até a rocha Tarpeia, na beira do precipício onde os romanos lançavam os condenados. Não corre nenhum risco de terminar, metaforicamente, como César, exangue aos pés da estátua de Pompeu.
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