De fato, o que chamou mais a atenção dos analistas na composição do IPCA-15 foi o recuo de alguns preços de serviços que estavam rodando em um patamar muito elevado. Os grandes itens que puxaram o índice para baixo estão na categoria de gastos pessoais: manicure, cabeleireiro, aluguel, consertos e manutenção, por exemplo. Se o mercado está forte, a classe C demandando por serviços, o mercado de trabalho aquecido e a renda continua crescendo, agora puxada pelo aumento do salário mínimo, como os preços dos serviços podem estar recuando? Uma hipótese, na opinião do economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, é que esteja havendo uma acomodação desses preços, porque cresceram muito e bateram no teto.
Ele lembra que, pelo efeito estatístico, haveria uma desaceleração do IPCA em 12 meses, já que a base era mais alta no começo de 2011. Mas destaca que o recuo da taxa está mais rápido do que as projeções do próprio Banco Central em dezembro.
O economista Carlos Thadeu de Freitas, da CNC, destaca um outro aspecto: tanto o IPCA-15 como a taxa de desemprego divulgados ontem refletem o passado e não o que vai acontecer com a economia daqui para frente. O crescimento ainda está tímido, mas vai acelerar a partir do segundo semestre. E os incentivos ao consumo oferecidos pelo governo podem gerar pressões inflacionárias.
Freitas defende a calibragem dos incentivos, de forma que estimulem menos o consumo - pois a taxa de juros em queda já é um importante impulso nesse sentido - e mais os investimentos.
- Para crescer, sem pressionar a inflação, o governo deveria moderar os incentivos ao consumo e desonerar mais os investimentos - recomenda. E lembra o risco de o governo errar a mão no estímulo ao consumo neste momento como errou no ano passado ao contrair demais os investimentos.
Ganho real
Junto com o câmbio, um dos problemas que mais afeta a indústria é o crescimento do custo do trabalho sem aumento correspondente da produtividade. O gráfico abaixo mostra como o rendimento médio real nas seis principais regiões metropolitanas do país continua crescendo. Houve alta de 1,2% em fevereiro, sobre janeiro, e crescimento de 4,4% em relação ao mesmo mês de 2011. Acima, portanto, da variação do PIB. A principal fonte de pressão neste início de ano para as empresas é o reajuste de 14% do salário mínimo.
Balanço I
O balanço das empresas no quatro trimestre do ano passado confirma o que o IBGE antecipou. As companhias voltadas para o mercado interno estão se saindo bem, enquanto as que dependem do mercado externo vêm decepcionando. Empresas dos setores de serviço, como telecomunicações, financeiro, varejo e consumo, trouxeram números fortes, enquanto siderurgia, mineração, petróleo e gás ficaram abaixo do esperado.
Balanço II
A expectativa agora é em relação ao resultado das construtoras. A previsão do mercado é de que a rentabilidade dessas empresas será afetada pelo aumento de custos e pela desaceleração nas vendas. "Temos dados preliminares de vendas que mostram desaceleração do setor. Combinada com o aumento de custos da mão de obra, deve produzir resultados fracos na construção civil", prevê a analista-chefe da Ativa Corretora, Luciana Leocádio.
Olho na indústria
Depois da queda de 2,1% em janeiro, a indústria segue com maus indicadores em fevereiro. A produção de veículos caiu 0,5%, depois de recuar 10,1%; o fluxo de veículos pesados nas estradas ficou menor em 0,8%, seguindo queda de 0,4%; e a produção de papelão ondulado ficou 0,9% menor, depois do recuo de 0,8%. "Os indicadores que antecipam a produção não vieram bons, mas ainda prevemos alta de 0,7% na indústria em fevereiro. Este é um período de forte recomposição de estoques, e isso pode garantir um PIB de 1,1% no primeiro trimestre", disse o economista Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria.
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