terça-feira, março 06, 2012
A arte de caminhar - DENISE ROTHENBURG
Correio Braziliense - 06/03/12
Eduardo Campos caminha de costas para o seu objetivo, concorrer à Presidência da República. Sabe que, se andar de frente para o Planalto, o PT dará um jeito de puxar seu tapete como ameaçou ontem por conta da sucessão paulistana
Jogada de mestre a que foi feita ontem pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Ao evitar que seu partido anunciasse ontem o apoio à candidatura de José Serra para prefeito de São Paulo deixando tudo para junho, o comandante do PSB conquistou no centro dos votos uma visibilidade que seu partido não tinha. Agora, dia sim, dia não, os políticos paulistanos — e por tabela, de outros estados que acompanham de longe os movimentos da eleição paulista — vão falar que o PSB ficará com o PT, flertará com o PSDB. E, assim, Campos valorizará o passe a ser entregue apenas na temporada de convenções municipais.
O PSB nunca obteve muito espaço em São Paulo. Sempre foi meio agregado. Ora do PT, ora dos tucanos. Mas, seu presidente, aos poucos vai se chegando por ali. A presença de todos os canais de TV, sites, jornais, na Associação Comercial do Estado de São Paulo, onde Campos proferiu uma palestra, mostra que ele começa a aparecer num lugar onde o governador de Pernambuco e traço sempre foram sinônimos. A consequência disso ninguém sabe, mas esses gestos não explícitos da política do PSB começam a ser observados por muitos, do governo aos tucanos.
Por falar em observatório...
De sua sala, no 4º andar do Palácio do Planalto, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, é uma das observadoras dos movimentos do PSB. Vê à distância o blocão que os socialistas planejam formatar na Câmara com o PSD, PCdoB e quem mais chegar. Uma força capaz de se contrapor ao PMDB, onde a confusão está cada dia maior. O que esse bloco, aliado ao governo, vai engendrar também é um tijolo rumo a 2014.
No Planalto e fora dele, todo mundo sabe que a pretensão futura de Eduardo Campos é concorrer à presidência da República ou, no mínimo, ser candidato a vice. Nesse sentido, os peemedebistas olham com certa inveja para o PSB de Campos. No governo Dilma, os socialistas têm o Ministério da Integração Nacional, recheado de verbas e programas que chegam direto ao eleitor de cada rincão do Brasil. Têm ainda a secretaria nacional de Portos, criada sob encomenda para abrigá-los ainda no governo Lula. Lá, podem fazer política sem serem incomodados diariamente.
Enquanto isso, o PMDB, que tem cinco, considera mesmo somente a Agricultura com o que chamam de "valor agregado", uma vez que a Previdência onde as coisas acontecem é no INSS. E, para completar, avaliam os peemedebistas, o PSB não tem aquela fama de fisiológico que consta na testa do PMDB. E agora, com o manifesto do PMDB exigindo maior participação no governo, ainda que seja na formatação das políticas, a fama volta a aparecer com força.
Por falar em força...
Um dos entraves do projeto de Eduardo Campos hoje é seu casamento com o PT. O que até então o ajudou a conquistar espaço, começa a atrapalhar sua caminhada. A cada passo que ele dá, os petistas tentam segurar seus movimentos. No caso de São Paulo, houve quem dissesse dentro do PT que, se o PSB fechasse com Serra agora, deveria sair do governo Dilma no mesmo dia. Ora, ora, mas Dilma não disse que o governo federal não tem nada a ver com a eleição paulistana? Está cada dia mais claro que não é bem assim.
Por essas e outras, Eduardo Campos caminha, a partir de agora, de costas para o seu objetivo, concorrer à Presidência da República. De vez em quando, dá uma viradinha, para ver se o fato de caminhar de costas não o tirou do rumo do Planalto. Mas, logo em seguida, volta-se de novo de costas para o destino final que deseja alcançar. Se fizer diferente, o PT irá fazer dele um adversário no mesmo nível que tem hoje o senador Aécio Neves (PSDB-MG). Amistoso, educado, mas que aguarda apenas o momento certo de colocar seu bloco na rua para concorrer à presidência da República e tentar puxar Eduardo para ser seu candidato a vice.
Por falar em vice...
Ideli Salvatti chamou o presidente em exercício, Michel Temer, para tentar acalmar a bancada do PMDB e evitar grandes estragos em função do manifesto da Câmara. Finalmente, alguém chama o vice-presidente da República para alguma coisa. Sinal claro de que Temer é visto como um adestrador de peemedebistas e não como o segundo na hierarquia presidencial.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário