O ESTADÃO - 07/02/12
Sinais interessantes têm chegado da economia americana. Números da criação líquida de postos de trabalho, nos Estados Unidos, registram taxas positivas, mês após mês, sobretudo desde o último trimestre de 2011, sempre acima das expectativas dos analistas. As estatísticas de janeiro surpreenderam ainda mais.
Depois de revisado, o total líquido de vagas abertas evoluiu de 157 mil, em novembro, e 203 mil, em dezembro, para 243 mil, em janeiro de 2012. A criação de novos empregos refletiu na taxa de desemprego. Ela vem caindo também mês a mês. Em janeiro, desceu a 8,3%, o menor índice em três anos.
Há consenso de que o quadro do emprego pinta melhor, mas não se pode tomá-lo sem ressalvas. Primeiro, porque o desalento no mercado de trabalho ainda é elevado - muitos desistiram, pelo menos temporariamente, de procurar emprego - e as taxas de desemprego mais suaves se devem, em boa medida, à redução da população ativa. Depois, porque a recuperação é lenta e está longe de compensar as perdas ocorridas depois da eclosão da crise. No ritmo atual, a reposição dos estimados 10 milhões de vagas perdidas levaria perto de sete anos.
Gatos escaldados com a ameaça não concretizada de retomada em fins de 2010, os analistas estão tendendo a refrear o otimismo diante dos indicadores melhores. Mas o fato é que a atividade econômica, principalmente na indústria e em segmentos dos serviços, como turismo e entretenimento, está revelando vigor antes inexistente. O valor médio das horas trabalhadas na indústria, por exemplo, alcançou em janeiro o nível mais alto em seis anos.
São muitos, obviamente, os riscos de que a tendência positiva agora vislumbrada em cores mais nítidas venha a não se confirmar. Um recrudescimento da crise na Europa e estouros descontrolados das bolhas acumuladas na economia chinesa, possibilidades que não podem ser descartadas, com suas previsíveis repercussões negativas nas economias emergentes, tenderiam a quebrar o ritmo da recuperação esboçada nos Estados Unidos.
De todo modo, mesmo com essas sombras no horizonte, pode valer a pena tentar investigar as razões da incipiente, talvez frágil, certamente insuficiente, mas visível retomada econômica americana. A receita da saída "made in USA" da crise é clássica e se apoia em duas pernas. Uma delas é o afrouxamento monetário, usado para sustentar o setor financeiro, mas também para reduzir os custos de produzir e, mais do que tudo, desvalorizar o dólar e, assim, impulsionar exportações. A outra é uma política fiscal se não expansionista, pelo menos não contracionista.
O déficit do governo, no ano fiscal de 2011, que se encerrou em 30 de setembro do ano passado, subiu ligeiramente em relação a 2010, para US$ 1,3 trilhão, mantendo-se nas vizinhanças de 9% do PIB. É menos do que o pico de 10% do PIB registrado em 2009 - o mais elevado desde 1945 -, mas ainda assim muitíssimo alto e um verdadeiro Himalaia diante das pretensões das lideranças da zona do euro de limitar os déficits dos Tesouros de seus países a 0,5% do PIB.
Cabe, porém, ao esforço exportador a parcela mais expressiva da fórmula americana da retomada. Há exatamente dois anos, no discurso sobre o estado da União, o presidente Barack Obama espantou os analistas com o lançamento do desafio de dobrar o volume das exportações em cinco anos, levando-as, em 2015, a superar US$ 3 trilhões. A maior surpresa dessa história é que está funcionando. No ano passado, as exportações cresceram 16% e superaram US$ 2 trilhões. Mantido o ritmo, a meta será atingida com folga.
Ainda que a taxa média de incremento das exportações fique em 8% - metade da verificada em 2011 -, como analistas consideram mais realista, diante da possibilidade de menor crescimento dos emergentes e de contração no mercado internacional, especialmente no segmento das commodities, ocorreria um aumento de 60% no volume exportado pelos Estados Unidos. Isso seria suficiente para suportar mais de 15 milhões de postos de trabalho.
Não é só o dólar desvalorizado que anda operando o "milagre". A taxa de câmbio mais favorável tem sido turbinada por estímulos à produção - que, por sinal, estão promovendo aumentos de produtividade - e, acima de tudo, por ações agressivas de Washington no comércio exterior. De um lado, o governo não alivia as pressões para a valorização da moeda chinesa e, de outro, não descansa na negociação de acordos comerciais com países e blocos.
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