FOLHA DE SP - 24/02/12
A Livraria Cultura também é vítima ou deveria ser cobrada por negligenciar a segurança de seus clientes?
VAMOS ESTRAGAR o café da manhã de novo? Então releia a nota publicada dias atrás na coluna da colega Mônica Bergamo: "Os pais do jovem atacado com um taco de beisebol na Livraria Cultura, em São Paulo, em 2009, estão pedindo na Justiça indenização de R$ 2 milhões por dano moral e material. Eles dizem que a segurança da loja falhou. Pedro Herz, dono da Cultura, diz que foi vítima também".
O pão com manteiga atravessou na goela tudo de novo, não é?
Gosto muito do Pedro Herz, ouso dizer que é meu amigo. Desde sempre sou tiete da livraria do Conjunto Nacional, acompanhei a expansão do seu negócio, frequento o teatro Eva Herz, nome da mãe do proprietário, bem como os das lojas dos shoppings. Já estive lá mediando palestras e participando de encontros de portadores de câncer e suas famílias e sei avaliar a contribuição que o empresário presta à cidade. São Paulo é bem mais feliz desde que seu negócio virou essa potência com rede de lojas, serviço de entrega rápida pela internet, cinemas, cafés, sistema de pontos nos cupons, é uma festa a Livraria Cultura do Pedro Herz.
Mas tive uma sensação horrorosa ao ler que os pais do rapaz foram forçados a recorrer à Justiça para receber uma soma qualquer.
O leitor deve lembrar do caso, muita gente acompanhou o sofrimento dos pais entrando e saindo das Clínicas. Foram 300 dias de vigília na UTI.
O designer Henrique de Carvalho Pereira, 22, jamais recobrou a consciência. Morreu em 22 de outubro de 2010 e até hoje a mãe, professora do ensino público, passa por processo de readaptação para tentar voltar a dar aula.
No calor da emoção, com o rapaz entubado na UTI, Pedro Herz se dispôs a ajudar a família. Henrique era designer gráfico e, dias antes de ser atacado na livraria, tivera o desenho de sua vaquinha aprovado no "Cow Parade". Pedro comprou a escultura por R$ 17 mil e deu o dinheiro à família. E só.
Agora alega ser tão vítima quanto Henrique. "Tão vítima quanto" porque o assassino já havia atacado uma vitrine e depredado uma TV na mesma loja dias antes de chegar ao rapaz. Mas, se este é o caso, não se pode argumentar que, em vez de se colocar na posição de vítima, Pedro Herz e a Livraria Cultura deveriam estar sendo cobrados por negligenciar a segurança de seus clientes?
Tudo indica que a defesa de Pedro Herz não quer abrir precedentes. O raciocínio parece ser o de que pagar a indenização agora significa abrir o flanco para futuras ações.
Pode-se enxergar aí uma falácia. Ao fantasiar que exista como blindar o cliente contra o imponderável, os advogados de Herz esquecem de que cada caso é um caso. E tolhem dele a oportunidade de fazer o que é certo.
A família de Henrique não buscou confronto. Apenas tentou reaver o que gastou no tratamento e no pós-vendavel que lhes arruinou a vida. Foi a imprensa que, por acaso, encontrou o processo em andamento na Justiça.
E agora Pedro Herz, seus advogados e sua assessoria de imprensa armam um muro de silêncio ao redor da Livraria Cultura. O que eles não estão percebendo é que, em breve, pode ser necessário adicionar à guerreira equipe alguns estrategistas de marketing. Para lidar com danos à marca e à imagem.
2 comentários:
Barbara Gancia
REF- Seu artigo na Folha ( 24/2/2012) sobre a Livraria Cultura.
A Cultura deveria ter guardas com fotos de psicopatas imaginando que uma vez que já havia aprontado, poderia repetir. Ao invés do poder público ou a própria família do sujeito fazer exames psiquiátricos para verificar se esta apto a estar solto nas ruas, caberá ao estab. tomar previdências. Dezenas de seguranças treinados para reconhecimento facial na entrada da livraria .Se houvesse mais casos, que tal cadastrar todos os clientes com ident. digital. Para entrar, "dedão" e esperar o ok .Como não contratou um exército de guardas é responsável pela indenização financeira.Se o sujeito matar na primeira vez que for, aí a Livraria não é responsável, afinal foi a primeira. Certo? SE for solto, o problema é da Cultura.
Com certeza o sujeito só fará mal a alguém de novo na mesma loja, jamais em outra, e só na segunda vez,certo?
Uma pessoa que escreve isto, é que deveria ser proibida de entrar na livraria, pois também com certeza tem problemas também. Top 10 em texto ridículo.
O inimaginável aconteceu na livraria, como poderia ter acontecido na calçada ou na rua. Nestas hipóteses, o poder público não teria como ser responsabilizado. Segundo a teoria da autora do texto, as livrarias deveriam ter porta giratória, inspeção pessoal na entrada e seguranças em cada corredor? Acho que a vaidade e/ou o amor à polêmica tem afetado o tirocínio de Bárbara Gancia ultimamente.
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