Dilma deu um tapa na mesa.
– Não é possível. Até o iogurte está ruim!
Não era a primeira vez que a presidente explodia assim, no café da manhã. Ou era um mamão papaia passado. Ou era um croissant farelento. Ou a manteiga rançosa. Agora, o iogurte. Como era possível? Até o iogurte estragado!
– Joguem no lixo – ordenou Dilma.
E perguntou:
– Quem é o responsável pelo meu café da manhã?
Chamaram o responsável pelo café da manhã.
– Olhe aqui, meu amigo – disse Dilma. – Eu já aguentei demais. Durante um ano, aguentei abacaxi fora de época. Pão duro. Ovo sem gosto. Bacon gordo. Aguentei tudo, sempre imaginando que no dia seguinte iria melhorar. Mas não melhorou.
E hoje chegou ao cúmulo. O iogurte estava estragado. Iogurte já é leite estragado, se estragar mais fica intragável. É o estragado do estragado. E hoje conseguiram me dar até iogurte estragado.
– É que, é que...
– É que o quê? Fale, homem!
– É que não sou eu que faço as compras, dona Dilma.
– Quem é, então?
– É um grupo.
– Um grupo?!
Era um grupo. Ou, como eles preferiam se chamar, uma aliança. Todas as manhãs, várias pessoas embarcavam em carros oficiais no Planalto e iam às compras. Cada uma levava a sua lista de compras. E cada uma tinha seu fornecedor favorito. O caso do mamão papaia era típico.
Não compravam o mamão papaia mais bonito e melhor. Não interessava a qualidade do mamão papaia, interessava que o dono da fruteira era do mesmo partido, além de primo, de um membro do grupo – que não aceitava outro mamão papaia na mesa da presidente a não ser o do seu primo. E assim acontecia com o croissant, com o pão e a manteiga, com os ovos, com o bacon...
– E o iogurte? Por que o iogurte ficou ruim de repente?
A explicação era que o iogurte mudara, por assim dizer, de patrocinador. Passara a ser importado de uma cidadezinha no interior de Minas, onde o afilhado de um dos membros da aliança era candidato à prefeitura e precisava de apoio. A viagem do interior de Minas a Brasília era longa, o iogurte não vinha bem acondicionado, era natural que estragasse...
Dilma deu outro tapa na mesa. Aquilo tinha que acabar.
– Vou eu mesmo fazer as compras!
– Mandou desfazer a tal aliança e no outro dia foi vista num supermercado enchendo o carrinho com produtos para o seu café da manhã, escolhidos com muito cuidado. Demorou-se no exame do mamão papaia, cheirando-o e apalpando-o até ficar satisfeita de que era o que queria.
Comentou com quem a acompanhava que aquilo lhe dera uma ideia para a escolha – pessoal, sem ouvir palpite de ninguém – dos seus novos ministros, quando fizesse a reforma.
– Você vai cheirá-los e apalpá-los até ficar satisfeita?
– Metaforicamente, sim.
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