domingo, janeiro 15, 2012

Agenda contida - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 15/01/12

Que ninguém espere movimentos mais ousados ou uma maior participação da presidente Dilma Rousseff na política externa. A prioridade continuará sendo o plano interno, apesar da Rio%2b20



Dilma começou o governo surpreendendo a todos os diplomatas. Visitou a Argentina, como forma de marcar a prioridade dada aos vizinhos. Recebeu muito bem o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Ainda no primeiro semestre do ano passado, fez bonito na China, onde debutou na reunião dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Em setembro, foi motivo de orgulho para os brasileiros ao discursar na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), posição que sempre coube ao Brasil.

Mas, passado o primeiro ano, há quem diga nos bastidores que a participação dela poderia ter sido mais expressiva ou ter criado laços mais fortes com os dirigentes de outros países.

Reservadíssima, Dilma se tornou amiga de dois presidentes a da Argentina, Cristina Kirschner, e o do Uruguai, José Mujica, a quem já conhecia de longa data. Diferentemente de Lula, ela não foi de ficar telefonando a presidentes de outros países ou se oferecendo para resolver problemas externos. Nem tinha tempo para isso. Afinal, a agenda interna foi, como definiu um auxiliar da presidente, “massacrante”.

A cada 50 dias, era um ministro que deixava o governo. Isso sem contar a série de programas lançados pelo Poder Executivo. Em se tratando de uma presidente que quer ler relatórios e analisar tudo, não houve tempo para grandes jogadas no plano internacional.

Os movimentos de Dilma tiveram mais efeito internamente do que lá fora. Por exemplo, o convite a Fernando Henrique Cardoso para participação no almoço em homenagem ao presidente dos Estados Unidos e a manutenção de uma distância regulamentar de nomes como o iraniano Mahmoud Ahmadinejad que, aliás, fez um périplo pelas américas e Caribe este mês em nome da paz. Dilma tampouco se mostrou a melhor amiga do presidente da Venezuela, Hugo Chavez, ou chamou o finado Muammar Kadafi de “companheiro”. Marcou, sim, diferenças para Lula nessa área.

Para este ano, a presidente começa a sua agenda externa com uma simbólica visita ao Haiti e a Cuba, com foco na necessidade de um mundo mais solidário. No caso do Haiti, a decisão do governo brasileiro de conceder vistos de trabalho, embora em número limitado, representa um exemplo positivo para outros países do mundo que não concedem essa permissão. Aliás, o fato de os haitianos procurarem o Brasil é um sinal de que a economia interna vai bem e oferece oportunidades que antes o mundo buscava nos Estados Unidos.

Por falar em economia…
Depois da visita ao Haiti, Dilma segue mais ou menos o script de 2011, com presença confirmada na cúpula dos Brics, no final de março, na abertura da Assembleia Geral da ONU, em setembro. Acrescente-se aí uma visita de estado ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e à alemã Angela Merkel.

Isso não quer dizer que a presidente não estará com os olhos voltados para o plano internacional. Ela está atenta ao que ocorre na crise europeia, mais no sentido de acompanhar e tentar proteger o Brasil do que propriamente participar da resolução dos problemas alheios, uma vez que os próprios europeus não se entendem. O rebaixamento da França por uma das mais importantes agências que monitoram os mercados é sinal desse desentendimento.

A prioridade de Dilma será o plano interno. Até porque 2012 não será fácil. É ano eleitoral, quando a política sempre costuma dar dor de cabeça aos governantes e, para completar, vem aí uma onda de greves para ninguém botar defeito. Começou com a da Polícia Militar do Ceará, nos primeiros dias do ano, e promete seguir firme em outras categorias.

O maior evento da agenda internacional de Dilma será no Brasil, a Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, em junho. A expectativa, entretanto, não é das melhores neste início de ano. Quem acompanha de perto o tema acredita que o maior avanço deverá ser a transformação do Pnuma, o programa de meio ambiente da ONU, em agência, nos moldes da Organização Mundial de Saúde (OMS). A partir do mês que vem, tanto o Itamaraty quanto o Palácio do Planalto devem intensificar os convites a chefes de estado para participar da Rio+20. Esse encontro pode ser a chave para que os mais críticos deixem de ver Dilma como aquela que relega o papel internacional a segundo plano. Por enquanto, se depender do atual andar da carruagem, a agenda será mesmo mais caseira. E, cá entre nós, se Dilma conseguir proteger o Brasil de naufrágios, já está de bom tamanho.

Por falar em naufrágio…
Que Deus dê conforto às vítimas do navio Costa Concordia na Itália. A jornalista Alana Rizzo, que estava a bordo, e os parentes que a acompanhavam no cruzeiro estão bem.

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