FOLHA DE SP - 11/01/12
BRASÍLIA - Por previsível, quase causa enfado a disputa política sobre a ação na cracolândia paulistana, de resto um imperativo da cidade contaminado desde a saída pelos interesses do combalido governo Kassab. Quem sabia do quê, planos mirabolantes. Ah, as eleições.
Agora é a vez do governo federal, que busca estabelecer um roteiro adequado às pretensões eleitorais do pré-candidato a prefeito Fernando Haddad (PT): o de que São Paulo meteu os pés pelas mãos e não participou de um esforço coordenado (pelo Planalto, claro) contra o crack.
Os limites do real, que passam pela Constituição, se interpõem ao que está na praça. Mas o que vale é a versão, como no caso daquela criancinha indígena que teria sido queimada viva por madeireiros no Maranhão, que "bombou" na internet.
Foi um mar de comentários, postagens e afins que as redes sociais autofágicas promoveram sobre o caso. O território não é feudo só de "progressistas", certo, mas quase isso.
Madeireiros são "do mal" pela definição dos moderninhos, dos humanistas de Facebook. São capitalistas horrendos, como os especuladores que querem acabar com a cracolândia só pelo lucro. E tostam nativos.
Bem, a Funai foi apurar e viu que a história era uma cascata. Tanto faz: já está satisfeito o contingente do "bilhão de varandas voltadas para o sol", para usar uma velha imagem do escritor britânico J.G. Ballard.
No seu mundo sem áreas cinzentas, esse mesmo pessoal usou o lamentável episódio do PM que abusou de sua autoridade contra um garoto na USP para comprovar que o fascismo vive tanto na Cidade Universitária quanto na Luz -importa pouco que tenha havido punição, até por graça de a prova veiculada na mesma internet ser cabal.
É conveniente a uma certa estratégia que a versão prospere. Esqueça que Haddad é autor da pérola segundo a qual "não se pode tratar a USP como a cracolândia". Basta "curtir".
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