FOLHA DE SP - 11/01/12
O noticiário sobre o país tem sido dominado de longe pela questão do narcotráfico e da violência. Mas o México merece atenção, visto que é a segunda maior economia da América Latina e, no momento, tem desempenho bem melhor do que a primeira.
O PIB mexicano cresceu 1,3% no terceiro trimestre (ou 5,5% em termos anualizados), ante estagnação no Brasil. A inflação encontra-se em 3,5%, acima da meta, que é de 3%, mas bem abaixo da nossa (6,5%).
É fato que, ao contrário da recuperação em "V" vivida pelo Brasil, o México sofreu recessão profunda e prolongada, o que, ao menos em parte, explica seu crescimento mais intenso na margem -em 2009, por exemplo, o PIB do México caiu 6,1%, ante 0,3% no Brasil.
A recessão de 2009 teve muito a ver com o impacto da crise dos EUA, país com o qual o México tem fortes vínculos econômicos e financeiros (as exportações para os norte-americanos correspondem a cerca de um quarto do PIB mexicano).
Fatores idiossincráticos, como a epidemia do vírus H1N1, também contribuíram para a contração do PIB. Adicionalmente, cabe notar que o problema dos derivativos cambiais exóticos nas empresas parece ter tido efeito mais intenso sobre a atividade econômica do que se observou no Brasil.
Mesmo com esse choque profundo, a política econômica mexicana não sofreu descontinuidade, talvez por conta da crença de que as alternativas ao tripé ortodoxo de metas para a inflação (e um BC formalmente autônomo), câmbio flutuante e superavit primário seriam deletérias.
A política econômica no México tem sido conduzida por um grupo de tecnocratas, que funciona em torno do presidente do Banco Central, Agustín Carstens. O mandato de Carstens vai até o final de 2015, e os dos vice-presidentes do BC terminarão entre 2013 e 2019. Dessa forma, não deve haver grande modificação na condução da política monetária nos próximos anos.
Mas, evidentemente, o próximo presidente poderá substituir os ministros e redesenhar a agenda de reformas do país -centrada no setor de energia.
O cenário político-eleitoral parece apontar para a vitória da oposição nas eleições, que ocorrerão em turno único, marcado para 1º de julho, com o candidato do PRI, Enrique Peña Nieto, obtendo cerca de 45% das intenções de voto em pesquisas recentes. Mas a vitória não é garantida, pois há resistência ao PRI em segmentos do eleitorado, e o candidato tem dado mostras de fragilidade -como aparentemente desconhecer o valor do salário mínimo vigente no país.
No campo governista (PAN) a situação é indefinida. O presidente Calderón apoia o ex-ministro da Fazenda Ernesto Cordero. Mas este tem popularidade sensivelmente mais baixa do que a da deputada Josefina Vázquez Mota (ex-ministra da Educação), que tem conseguido 20% de apoio em simulações de eleições presidenciais -há ainda um terceiro postulante, o senador Santiago Creel.
Do ponto de vista dos mercados, o maior interesse, pois tem o potencial de influenciar de forma mais decisiva os preços de ativos, recai sobre o candidato das esquerdas, Andrés Manuel Lopez Obrador, conhecido pela sigla Amlo.
Lopez Obrador tem procurado passar uma imagem de moderação, semelhante, de fato, com a bem-sucedida estratégia do então candidato Lula em 2002. Mas há, até o momento, considerável ceticismo entre o empresariado e investidores locais quanto à nova posição de Amlo -isto é uma constatação, sem julgamento de mérito.
Por enquanto, tal ceticismo ainda não afeta os preços dos ativos e as cotações do peso mexicano, visto que o apoio a Amlo se encontra próximo de 15% das intenções de voto. Mas isso pode mudar caso o candidato, que tem inegável carisma pessoal, passe a ter desempenho melhor.
Se Amlo mostrar sinais de que pode vencer, a saída para acalmar os mercados pode ser uma "Carta ao Povo Mexicano".
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