FOLHA DE SP - 14/12/11
RIO DE JANEIRO - A primeira sessão de quimioterapia foi uma surpresa. Esperava um ambiente lúgubre, tipo ambulatório de guerra, com homens e mulheres esmagados e em silêncio, de braços plugados a frascos sinistros. E o que encontrei? Braços plugados, sim, mas uma atmosfera de salão de cabeleireiro, com as pessoas rindo e falando alto enquanto se submetiam ao tratamento. Dos dez pacientes, o único soturno -até entender o espírito da coisa- era eu.
Logo vi que a chacrinha se justificava. Todos ali tinham câncer, mas estavam felizes, porque se tratando. A porta de saída daquela sala levava à vida. Pensei que, várias sessões depois, quando a transpusesse pela última vez, eu sairia de pé -provisoriamente careca, talvez, mas e daí? Aderi à euforia e, na saída, tomei um milk-shake no Bob"s, lambendo os beiços. Pena que, com a continuação do tratamento, os milk-shakes seguintes já não tivessem gosto de nada.
A notícia de que, com as aplicações de químio, o tumor de laringe de Lula regrediu em 75% é alvissareira. Mas a fase mais dura de seu tratamento vem agora, com as seis ou sete semanas de radioterapia diária.
Meu próprio tumor, do mesmo tamanho e muito parecido com o de Lula, foi combatido a químio e rádio ao mesmo tempo. Com a região calcinada pelas aplicações, o paladar cai a zero, exceto pelo gosto de carpete que tudo parece ganhar. E a dor ao engolir torna cada "refeição" uma façanha -a alternativa, que recusei, era a gastrostomia.
Por mais cercado que se esteja de cuidados e amor, há muito de solitário nessa luta. E ela toma cada minuto, mesmo que se ocupe o dia com os mais poderosos derivativos. Quando acaba, os médicos exigem outros cinco anos de exames e de acompanhamento para declarar o vencedor. A minha foi em 2005, donde já me jubilaram. A de Lula apenas começou, mas ele vencerá.
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