FOLHA DE SP - 14/12/11
A crise europeia ainda não resultou em um "evento de crédito", no jargão adotado pelo Banco Central. Isto é, apesar dos problemas cada vez mais intratáveis na zona do euro, não houve a quebra de uma grande instituição financeira que pudesse acarretar paralisia generalizada do crédito global.
O cenário, por ora, é de uma crise menos aguda, porém mais persistente que a de 2008.
Nesse quadro, há sinais de que a abundância de dólares para mercados emergentes diminui. Empresas brasileiras parecem encontrar mais dificuldades em obter financiamento. O número de captações externas no segundo semestre caiu para 10, contra 39 no mesmo período de 2010. Já a taxa de rolagem -a renovação dos financiamentos em relação aos vencimentos- caiu de 193%, em agosto, para 72%, em outubro.
Um aspecto que merece atenção é o financiamento do comércio exterior, importante canal de contágio da crise externa para o Brasil na crise de 2008.
Dados do BC mostram uma pequena queda nessa modalidade em outubro, mas dentro de parâmetros normais. As linhas de oferta de empréstimos não secaram, mas o custo é ascendente, assim como as preocupações com uma possível escassez nos próximos meses.
O problema principal vem dos bancos europeus, que têm posição de destaque, por exemplo, no financiamento do comércio. A necessidade de reforçar seus recursos e recompor o caixa tem levado instituições financeiras do continente a cortar operações fora de seus países de origem. Estima-se que, entre redução de empréstimos e venda de unidades operacionais, a contração dos balanços dessas instituições possa chegar a € 1,8 trilhão nos próximos dois anos.
O ambiente, portanto, permanece difícil e exige cautela por parte das empresas e das autoridades econômicas -que têm ferramentas para agir em caso de necessidade.
O Banco Central brasileiro demonstrou, na crise de 2008, que pode rapidamente compensar uma eventual escassez de crédito, diminuindo a exigência de compulsórios -parte dos depósitos que bancos têm de manter retida no BC- ou dispondo-se a emprestar uma fatia das reservas internacionais para financiar as exportações do país.
Sob esse ângulo, a situação hoje é mais confortável -pois os compulsórios estão próximos de R$ 440 bilhões e as reservas internacionais superam US$ 350 bilhões. São recursos que, felizmente, dão ao país melhores condições de se defender de um possível agravamento da crise.
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