FOLHA DE SP - 16/12/11
Economia dos EUA se recupera de vez da crise? Falta dólar no Brasil? Os salários não iam explodir?
HÁ UMA GOTA de sangue em cada poema, dizia o título do livro juvenil e ruim de Mário de Andrade. Há um pouco de lorota e/ou um lobby em cada gota de notícia econômica simples e, simples assim, errada.
"Os Estados Unidos estão saindo da crise." "Está faltando dólar no Brasil." O imposto sobre derivativos cambiais era "impagável e incalculável". Depois dos reajustes salariais "enormes" de setembro, haveria "descontrole inflacionário" no Brasil. Etc. Não era tudo verdade.
EUA DESPIORAM?
A economia americana, parece, está despiorando. Parece. "Despiorando", não melhorando.
Melhor assim, claro. Houve grande e exagerado zunzum em meados do ano sobre os EUA adernarem de novo em recessão. Mas o que temos de novo na economia deles, se é que temos algo de muito novo, se descontados os efeitos das vendas e contratações de final de ano?
Os pedidos novos de seguro-desemprego agora andam na casa de 388 mil por semana (na média das últimas quatro semanas). Os pedidos chegaram a 600 mil por semana no fundo do buraco da recessão, entre 2008 e 2009. Antes do começo da crise (em 2007), a média semanal era de 300 mil.
Mas dá para confiar nos dados do período de festas? Não. Decerto seria muito pior descobrir que, mesmo com Dia de Ação de Graças, Natal e juro negativo, os pedidos estivessem acima de 400 mil. Ainda assim, a situação ainda é incerta.
O desemprego caiu da casa de 9% para 8,6%? Melhor. Mas repita-se o argumento sobre o final de ano e note-se que metade da queda da taxa se deveu ao aumento do desalento -mais gente desistiu de procurar trabalho. Cabe lembrar também que o Fed, o banco central dos Estados Unidos, prevê desemprego médio de justamente 8,6% no ano que vem. Ou seja, se o Fed estiver certo, para o bem ou para o mal, o desemprego vai ficar na mesma.
Por fim, e para não entrar nos detalhes ainda horríveis sobre salários e distribuição de renda nos EUA, considere-se que o crescimento americano no ano que vem deve ser MENOR que o deste ano (mais ou menos 1,6% neste ano, em torno de 1,4% no ano que vem).
Previsões econômicas são o que nós sabemos -pode dar tudo errado. Talvez para pior -tomara que não. Mas é preciso ponderar que: 1) O Congresso americano, enlouquecido pelo Partido Republicano, pode talhar incentivos fiscais e reduções de impostos vigentes ou propostos por Barack Obama; 2) Os governos municipais, estaduais e o federal ainda vão cortar empregos em 2012; 3) A Europa vai entrar em recessão, muito provavelmente, afora as confusões financeiras -os EUA não vão ficar imunes.
Tomara, claro e ressalte-se, que dê tudo certo. Mas a situação ainda é de dar medo. Por eles e por nós.
NO BRASIL
O real vinha perdendo as estribeiras nestes dias, indo ao chão -o dólar vinha subindo para o nível nervoso de R$ 1,90. O motivo básico é o tumulto europeu, que nestas semanas desencadeou também uma liquidação de commodities e ativos de risco. Não se trata de "seca" de dólares aqui. Pelo menos, não ainda. O Banco Central foi ontem ao mercado oferecer dólar. O mercado não quis comprar. Sobra dólar?
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