FOLHA DE SP - 16/12/11
Não há como não ficar surpreso com a velocidade com que a economia vem reduzindo seu crescimento
A divulgação pelo Banco Central da estimativa do PIB no mês de outubro passado confirmou a desaceleração do crescimento da economia brasileira nos meses finais de 2011. A queda de 0,3% em relação a setembro surpreendeu a maioria dos analistas, que esperavam uma quase estabilidade do indicador.
Com esse último número produzido pelo BC, é razoável termos crescimento zero na atividade econômica no último trimestre deste ano. Alguns analistas estão especulando, aliás, com a possibilidade de mais um número negativo para o PIB trimestral calculado pelo IBGE, o que caracterizaria a chamada "recessão técnica da economia".
Se isso acontecer, vai ser um evento de mídia importante e que colocará a equipe econômica do governo na defensiva. Afinal, a presidente Dilma está ainda prometendo crescimento acima de 4% ao ano. Mas acredito que a probabilidade de isso ocorrer é muito baixa.
O número divulgado pelo Banco Central está provocando nova rodada de redução na expectativa de crescimento para o ano de 2011 como um todo. A equipe de economistas da Quest Investimentos está passando da projeção anterior de 2,8% para 2,7%.
É importante lembrar que no começo deste ano a média dos analistas falava em crescimento econômico acima de 4% para o ano como um todo. Portanto, não há como não se surpreender com a velocidade com que a economia brasileira vem reduzindo seu crescimento.
Sobra ao analista a responsabilidade de explicar tal comportamento. É o que pretendo fazer a seguir.
Já faz algum tempo venho defendendo a tese de que a economia brasileira, depois de quatro anos de crescimento próximo de 5% ao ano entre 2005 e 2008, voltou à sua velocidade natural de cruzeiro, que me parece ser entre 3% e 3,5% ao ano.
A crise de 2008 e a recuperação em 2009 e em parte de 2010 tornaram nebulosas as leituras de mais longo prazo sobre o PIB no Brasil. Mas os últimos números parecem confirmar essa minha tese, de volta à normalidade, criada por fatores estruturais que limitam nosso crescimento.
Para entender o curto período de crescimento quase asiático que gozamos, é preciso entrar um pouco nas entranhas da microeconomia brasileira e identificar os fatores sazonais que empurraram nossa economia naquele período.
O primeiro deles foi a expansão rápida do crédito ao consumo, depois que nossos banqueiros passaram a confiar na estabilidade de nosso crescimento. Hoje, com o volume de crédito atingindo níveis que vigoram em outras economias de mercado, esse empurrão extra no PIB desapareceu.
Outro fator conjuntural que não existe mais é o provocado pela ascensão de várias dezenas de milhões de brasileiros à condição de novos cidadãos consumidores. Esse movimento está se esgotando, e a capacidade de consumo desse grupo passou a estar ligada apenas à evolução real de sua renda monetária.
Outro fator temporário que ajudou muito nosso crescimento econômico na passagem do primeiro para o segundo mandato do presidente Lula foi o processo de desinflação criado pela valorização do real nos mercados de câmbio.
Com isso, a renda real dos trabalhadores se expandiu a taxas elevadas e, por meio do canal do crédito farto, levou ao crescimento de dois dígitos das vendas reais no varejo.
À época da eleição presidencial de 2006, o consumo cresceu a taxas próximas de 20% ao ano nas regiões Norte e Nordeste. Agora, em 2011, esse processo não está mais presente, e o crescimento real da renda voltou a ocorrer com maior moderação.
Essas e mais algumas forças temporárias de menor intensidade funcionaram como foguetes extras que empurraram -por algum tempo- a economia brasileira a uma velocidade superior àquela de cruzeiro.
Agora, voltamos a crescer devido a fatores estruturais que comandam o dia a dia de nossa economia.
Nessa situação, o crescimento econômico fica limitado por uma carga tributária elevada, por um governo que arrecada demais e -apesar disso- não investe e por deficiências graves em nossa infraestrutura econômica.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 69, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).
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