sexta-feira, dezembro 16, 2011

Ideias que tiveram um mau ano - MOISÉS NAÍM

FOLHA DE SP - 16/12/11


Este ano a ideia de que a desigualdade econômica é inevitável e é preciso tolerá-la sofreu fortes reveses

Esta é minha última coluna deste ano, e, portanto, é própria uma revisão do que foi mais importante em 2011. Não vou fazer um apanhado de notícias, mas identificar cinco ideias que tiveram um mau ano.
Primeira: a tolerância em relação à desigualdade. Este ano a ideia de que a desigualdade econômica e a injustiça social são inevitáveis e que é preciso tolerá-las sofreu fortes reveses. A crise econômica enfatizou informação que já existia, mas não havia adquirido a força política que ganhou neste ano: os números das disparidades de renda estão na cabeça de todos.
E a nova intolerância não diz respeito unicamente à disparidade econômica. Também aponta para a injustiça e o tratamento indigno. Milhões de pessoas no mundo árabe saíram às ruas, quando eliminaram a ideia de que seu futuro estava destinado a ser como seu passado. A desigualdade e a injustiça não vão desaparecer. Mas em 2011 ficou muito mais difícil defendê-las.
Segunda: o respeito pelos que mandam, sabem ou têm. Este ano foi ruim para a reputação de políticos, economistas e ricos. Descobrimos que muitos governantes não possuem o poder de tomar decisões fundamentais, que cada economista famoso tem uma explicação e uma solução diferente para a crise, e que os ricos (tanto empresas quanto indivíduos) que contribuíram para a debacle econômica não estão sofrendo as consequências de seus atos. Em 2011, a legitimidade de governantes, especialistas e líderes empresariais caiu. Não acreditamos nem confiamos neles. E para ter autoridade é preciso ter legitimidade.
Terceira: a rivalidade política não deve levar à paralisia governamental. Tanto nos EUA como na Europa, os políticos não conseguem colocar-se de acordo para tomar decisões urgentes. E é um fenômeno global. Da Tailândia ao Japão, da Bélgica à Índia e da África do Sul ao México, a polarização política se transformou em paralisia. Faz tempo que não vai bem a ideia de que existem interesses nacionais acima das ambições eleitorais. Em 2011, ela continuou a ir mal.
Quarta: o ambiente se encontra em estado de emergência. A ideia de que é preciso agir urgentemente para evitar que o planeta continue a se aquecer até tornar-se inabitável desapareceu da agenda. Não pôde competir com as dificuldades econômicas, o crash financeiro, o desemprego, os fracassos repetidos em resolver a crise, o assassinato de Bin Laden, a Primavera Árabe e Justin Bieber. Enquanto isso, as informações mais recentes e inquestionáveis mostram que a temperatura média da superfície do planeta subiu somente 1°C nos últimos 50 anos.
Quinta: é melhor não possuir bombas atômicas. Em 2011, os tiranos do mundo tomaram nota do destino de Muammar Gaddafi e do norte-coreano Kim Jong-il. O primeiro renunciou à ideia de ter um arsenal nuclear e o segundo não abre mão de suas bombas atômicas. Os ditadores confirmaram que sua sobrevivência depende de contar com bombas atômicas que os protejam da intervenção externa e um exército que os proteja de seus povos.
Esta é uma lista obviamente incompleta. Convido-os a propor outras ideias que tiveram um mau ano, no Twitter@moisesnaim. Um 2012 muito feliz. Retorno em janeiro.

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