FOLHA DE SP - 30/12/11
Obras de transposição do rio São Francisco estão parcialmente paradas há cerca de um ano; galpões foram saqueados e mato cresce ao redor
Alojamentos depredados e saqueados no meio da caatinga, ao lado de um canal tomado pelo mato e corroído pela erosão, formam o cenário de abandono em vários trechos das obras da transposição do rio São Francisco.
O projeto federal de R$ 6,8 bilhões, iniciado em 2007, está parcialmente paralisado há cerca de um ano.
A Folha percorreu cerca de cem quilômetros do eixo leste da obra, a partir de Floresta (PE), onde está um dos pontos de captação de água.
O Exército continua trabalhando no local, mas os consórcios privados abandonaram as obras, reclamando a revisão dos seus contratos.
As máquinas foram retiradas, e milhares de trabalhadores, demitidos. Nos galpões que serviam de alojamento, portas, janelas e telhados foram saqueados.
Em trechos onde o canal estava sendo concretado, foi retirado até o plástico usado para isolar o cimento do chão. O sol racha o solo e provoca trincas no concreto. O mato toma áreas já terraplenadas.
A água que se acumula em alguns metros de vala vem da chuva ocasional e serve apenas para saciar a sede dos bodes e do gado das fazendas.
Nas agrovilas, o movimento intenso dos primeiros anos do projeto acabou. A paralisação das obras trouxe prejuízo aos comerciantes e devolveu ao campo os lavradores contratados como operários.
Dona de um restaurante na Agrovila 6, em Floresta, Eliane Maria da Silva Lisboa, 37, diz que levou um calote de cerca de R$ 20 mil com a demissão dos operários. "Vendi fiado, e eles foram embora sem pagar nada", reclama.
O restaurante, que em 2009 chegou a servir 400 refeições por dia e faturar R$ 150 mil por mês, quebrou. A comerciante recebe hoje três clientes por semana. "Fiz dívidas pensando em quatro anos de trabalho, mas só durou um."
Lisboa afirma que sua esperança está no reinício das obras. De acordo com o Ministério da Integração Nacional, cinco dos 14 lotes da transposição estão parados, e os serviços serão retomados gradualmente a partir de janeiro.
O ministério afirma ter identificado 500 metros de rachaduras, fissuras e descolamento de placas de concreto em três trechos de canais. As falhas, diz, serão corrigidas "sem custo adicional para os cofres públicos".
Em nota, o ministério informou que todos os serviços "possuem garantia" e que o governo federal "não pagará, em hipótese alguma, o mesmo serviço em duplicidade".
A transposição prevê a construção de dois canais para levar água do rio São Francisco a 12 milhões de pessoas de 390 municípios de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, até 2025.
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