Vai ou racha
REGINA ALVAREZ
O GLOBO - 04/11/11
Reconheceu, portanto, que não existe uma terceira via: ou a Grécia aceita o plano ou abandona o bloco, exatamente na linha dos discursos inflamados de Nicolas Sarkozy e Angela Merkel no dia anterior.
A decisão do primeiro-ministro de convocar um referendo popular para aprovar o plano de socorro, que traz embutido um rigoroso programa de ajuste, esgarçou as relações dos gregos com os demais líderes europeus. E colocou na mesa a possibilidade concreta de a Grécia abandonar a zona do euro. Mas no fundo ninguém deseja que isso aconteça, porque os dois lados sairiam perdendo.
Para a Grécia, não tem saída possível sem dor, mas deixar o bloco pode acarretar prejuízos ainda maiores do que permanecer e adotar o remédio amargo do ajuste, com corte nos gastos, perda de emprego e renda.
A conseqüência imediata da saída, na visão de especialistas, seria um calote generalizado da dívida grega. O país passaria a adotar a dracma como moeda e não teria como honrar as dívidas em euro.
— A percepção é que terão um default generalizado e desordenado. Com isso, o temor sobre bancos aumenta, assim como as dúvidas em relação a outros países, principalmente a Itália — observa o economista Roberto Padovani, da Votorantim Corretora.
A economista Monica de Bolle, da Consultoria Galanto, compara a situação da Grécia fora da zona do euro com a da Argentina, quando desvalorizou a moeda. A população empobreceu, mas o nosso vizinho ainda conseguiu tirar vantagem da desvalorização, aumentando as exportações para a Europa, que estava em boa fase de crescimento. A Grécia nem teria essa vantagem, pois exporta a maior parte dos produtos para a zona do euro, que agora está em declínio completo.
— Os gregos estão se questionando se tem sentido se manterem no euro, mas a saída seria muito dolorosa — destaca.
Se para a Grécia tudo indica que o menos pior é permanecer na zona do euro, o mesmo vale para os demais países do bloco.
— Se a Grécia sair do euro e afundar, as chances de carregar a Itália são muito grandes, e aí a crise será de proporções sem precedentes — prevê.
Contágio não se controla, ressalta. E o calote desordenado da dívida grega afetaria profundamente os bancos franceses, atingindo em cheio o bloco europeu.
Na visão da economista, por trás desse ultimato dado à Grécia pelos líderes Sarkozy e Merkel existe um enorme temor que o país deixe o bloco em um momento tão delicado, causando todo esse estrago.
Sem noção
Da Europa, onde vive um período sabático, o professor Antônio Buainain, do Instituto de Economia da Unicamp, observa a reação da população à crise. Ele conta haver um descompasso entre as manchetes dos jornais e o que escuta nas ruas de motoristas de táxi, jovens na universidade e colegas de profissão. Buainain — que está na Espanha, mas já passou por Itália e Portugal — diz que não sente temor em relação aos efeitos da crise da Grécia, mas um forte descontentamento com os governos e com as medidas tomadas para combater a crise.
— O que as pessoas cobram é a continuidade da situação que alcançaram com base no endividamento, no gasto público mal dirigido, na construção de infraestrutura que não eleva a produtividade da economia.
Bola da vez
O gráfico abaixo dá o tom da desconfiança do mercado em relação à Itália, o que coloca o país na posição de bola da vez no caso de a Grécia afundar na crise. A dívida elevada e a incerteza política que dificulta o ajuste fiscal só aumentam o temor do mercado, que cobra um preço cada vez mais alto pela rolagem da dívida italiana
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