A comédia grega e os antibióticos brasileiros
HÉLIO GUROVITZ
REVISTA ÉPOCA
Diante da atual crise na economia global, todos parecem esperar o momento em que a tempestade financeira passará, e a vida voltará ao normal. Há, porém, bons motivos para acreditar que isso ainda vai demorar muito a acontecer. Houve uma brutal destruição de riqueza em todo o planeta. As sociedades ocidentais estão perplexas diante dos fatos, atônitas à espera de uma salvação milagrosa da economia global. E parece evidente que esse tipo de esperança messiânica será frustrada.
A virtual falência da Grécia tornou-se o foco da atual tensão nos mercados. Na semana passada, os gregos protagonizaram um inusitado vaivém. Depois de praticamente ter fechado um acordo com a União Europeia para refinanciar suas dívidas, o (até o fechamento desta edição) primeiro-ministro grego, George Papandreou, decidiu realizar um plebiscito para aprová-lo. Em seguida, pressionado por líderes europeus, voltou atrás, como se fosse personagem de uma comédia grega (leia a reportagem Perdidos no labirinto grego). Nada que pareça estranho a um país como o Brasil, que já viveu uma era de calotes, impenetráveis pacotes econômicos e levou décadas para recobrar sua credibilidade diante dos atores globais. Mas algo absolutamente inusitado para a cultura europeia, acostumada ao cumprimento de contratos e afeita a conceitos pré-medievais, como a honra à palavra empenhada.
Se a Grécia se comporta como uma republiqueta latino-americana, e o Brasil é chamado a participar e a contribuir com recursos para o comitê de salvação pública planetário – foi o que aconteceu na reunião do Grupo dos 20, em Cannes –, é lícito deduzir que algo mudou neste planeta. Mudou mesmo. Temos diante de nós uma oportunidade única. Como a população brasileira ainda é jovem, nosso Estado provedor criado pela Constituição de 1988 (aquela que garante ao povo tudo quanto é direito, menos o direito de saber de onde sairão os recursos para financiá-los) ainda não chegou ao ponto da bancarrota, como a Grécia, a Itália ou mesmo a Espanha. Padecemos, no papel, dos mesmos males que a Europa: corporativismo, sindicalismo, aposentadorismo, inflacionismo, impostorreia e estadolatria. Mas, em nós, a doença ainda está incubada. Temos tempo para tomar os antibióticos.
Os remédios são dois. Primeiro, reformas tributária, fiscal, trabalhista e previdenciária, que tornem nosso país mais competitivo diante da nova realidade global criada pela ascensão das economias asiáticas, sobretudo da China. Segundo, uma educação de qualidade, capaz de tirar nosso povo do lamaçal intelectual e ideológico que emperra nosso crescimento. "Se fizermos isso, o Brasil se tornará a nova fronteira do crescimento global", diz o economista Paulo Guedes, colunista de ÉPOCA. "Temos energia, comida abundante e tudo para criar uma dinâmica própria." A questão, segundo Guedes, é outra: teremos uma classe política capaz de entender isso e formular as respostas necessárias?
A virtual falência da Grécia tornou-se o foco da atual tensão nos mercados. Na semana passada, os gregos protagonizaram um inusitado vaivém. Depois de praticamente ter fechado um acordo com a União Europeia para refinanciar suas dívidas, o (até o fechamento desta edição) primeiro-ministro grego, George Papandreou, decidiu realizar um plebiscito para aprová-lo. Em seguida, pressionado por líderes europeus, voltou atrás, como se fosse personagem de uma comédia grega (leia a reportagem Perdidos no labirinto grego). Nada que pareça estranho a um país como o Brasil, que já viveu uma era de calotes, impenetráveis pacotes econômicos e levou décadas para recobrar sua credibilidade diante dos atores globais. Mas algo absolutamente inusitado para a cultura europeia, acostumada ao cumprimento de contratos e afeita a conceitos pré-medievais, como a honra à palavra empenhada.
Se a Grécia se comporta como uma republiqueta latino-americana, e o Brasil é chamado a participar e a contribuir com recursos para o comitê de salvação pública planetário – foi o que aconteceu na reunião do Grupo dos 20, em Cannes –, é lícito deduzir que algo mudou neste planeta. Mudou mesmo. Temos diante de nós uma oportunidade única. Como a população brasileira ainda é jovem, nosso Estado provedor criado pela Constituição de 1988 (aquela que garante ao povo tudo quanto é direito, menos o direito de saber de onde sairão os recursos para financiá-los) ainda não chegou ao ponto da bancarrota, como a Grécia, a Itália ou mesmo a Espanha. Padecemos, no papel, dos mesmos males que a Europa: corporativismo, sindicalismo, aposentadorismo, inflacionismo, impostorreia e estadolatria. Mas, em nós, a doença ainda está incubada. Temos tempo para tomar os antibióticos.
Os remédios são dois. Primeiro, reformas tributária, fiscal, trabalhista e previdenciária, que tornem nosso país mais competitivo diante da nova realidade global criada pela ascensão das economias asiáticas, sobretudo da China. Segundo, uma educação de qualidade, capaz de tirar nosso povo do lamaçal intelectual e ideológico que emperra nosso crescimento. "Se fizermos isso, o Brasil se tornará a nova fronteira do crescimento global", diz o economista Paulo Guedes, colunista de ÉPOCA. "Temos energia, comida abundante e tudo para criar uma dinâmica própria." A questão, segundo Guedes, é outra: teremos uma classe política capaz de entender isso e formular as respostas necessárias?
Nenhum comentário:
Postar um comentário