Educados e doutrinados
YOANI SÁNCHEZ
O ESTADÃO - 09/10/11
Em lugar de se formarem na prática do trabalho agrícola, os bolsistas treinavam hábeis artimanhas para fingir que trabalhavam, enquanto, nos albergues, prosperavam a promiscuidade e a prepotência. Felizmente, a experiência terminou, não sem antes deixar uma mistura de lembranças meio doces, meio amargas nos que a viveram na pele.
O presidente Raúl Castro anunciou o seu fechamento no âmbito de um processo de redução de custos e para fazer com que o pragmatismo se impusesse onde antes predominava o desvario. Os blocos de concreto erguidos no meio do nada, que abrigavam os jovens, agora são utilizados como habitação, por instituições de outro gênero ou simplesmente abandonados.
Ruínas novas, arquitetura já obsoleta pertencente a uma época recente que acaba de se encerrar. Embora essa "ideia do comandante" de promover os cursos pré-universitários no campo tenha chegado ao fim, ainda resta muito a fazer para tirar do atoleiro a educação pública em Cuba.
Em todo o território nacional, as instalações escolares são muito numerosas e cada criança ou jovem tem acesso gratuito a elas. Entretanto, o baixo nível dos professores, a deterioração material da infraestrutura docente e o excessivo componente ideológico conspiram consideravelmente contra sua qualidade.
Os anos dourados do ensino na ilha, aparentemente, ficaram para trás, extraviaram-se com a perda do subsídio soviético e com o desmembramento do Conselho de Ajuda Mútua Econômica. O que confirma que as alardeadas conquistas no campo da educação não eram, na realidade, respaldadas pelo desenvolvimento econômico do país, mas dependiam diretamente do apadrinhamento que vinha do Kremlin.
Êxodo. Com a crise dos anos 90, um dos primeiros sinais da deterioração foi o êxodo maciço de professores para setores mais bem remunerados. Na recepção de um hotel, na direção de um táxi ou como contadores de alguma empresa de capital misto, trabalham pessoas que antes ensinavam matemática, física ou espanhol em uma sala de aula.
Procurou-se reduzir o déficit de educadores, mas, segundo afirmam os mais antigos, a tentativa só contribuiu para piorar a situação. Formados para essa carreira, os novos professores assumiram as cadeiras e afundaram ainda mais a outrora "joia da coroa" do socialismo cubano.
Não só mostravam um preparo insuficiente como vinham munidos de uma ferramenta que provocou a queda livre dos valores e da interação com os estudantes: as chamadas "teleaulas".
Durante mais de cinco anos, no ensino médio, as horas letivas ministradas pelo televisor chegaram a ocupar até 60% da totalidade do programa. Saber manejar um controle à distância, para desligar ou ligar o aparelho, era mais importante do que saber geografia ou gramática.
E então, começamos a colher os frutos da improvisação. O baixo nível das pessoas que chegam ao ensino superior, a ausência de uma formação ética entre os mais jovens e a perda quase total do reconhecimento social que antigamente cercava a figura do mestre.
Depois de tentar inovar de todas as maneiras possíveis com a alquimia do ensino, agora o Ministério da Educação procura reparar o dano. Por exemplo, aumentou o período de formação dos que têm a responsabilidade de instruir nas escolas primárias e secundárias. A desativação de muitas escolas de regime de internato também foi uma medida recebida com alívio pelos pais.
No entanto, nos murais de cada sala de aula, nos livros de história e até nas leituras de alfabetização, continua presente um componente que resiste a ceder espaço: a ideologia. Nem as palavras de ordem, nem os lemas, a adoração aos líderes, nem o estudo do marxismo-leninismo serão eliminados com as novas mudanças na área da educação.
O atual ministro da Educação Superior, Miguel Díaz Canel, ratificou também a premissa de que "a universidade é para os revolucionários", o que promove antes a simulação do que a fidelidade política.
Além disso, a educação pública continua sendo vista como uma dádiva, um presente, e não como um direito que cada cidadão poderia exigir e reivindicar. À menor crítica feita ao governo, a primeira resposta é que devemos nos lembrar de que não pagamos um centavo sequer para sentar numa sala de aula, desconhecendo assim que a verba destinada a esse setor provém dos cofres do governo e, portanto, sai dos nossos bolsos ou de recursos nacionais que nos pertencem.
Tampouco nos é permitido protestar na rua para que nossos filhos tenham uma instrução de melhor qualidade e sem a influência direta das premissas de um partido. Mas conseguimos alguma coisa. Nossa pequena vitória tem como troféu um enorme albergue de concreto abandonado no meio do nada, uma experiência educativa que ficou para trás. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
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