O partido que falta
CARLOS HEITOR CONY
FOLHA DE SP - 09/10/11
RIO DE JANEIRO - Fiquei sabendo pelos jornais que o Brasil terá mais um partido político: o PPL (Partido Pátria Livre). Somando-se aos já existentes, serão 29 segmentos políticos da sociedade que terão programas para melhorar as coisas e causas nacionais, embora eu não compreenda, por exemplo, que existam 29 maneiras de ser contra ou a favor do aborto, do casamento gay e dos royalties do pré-sal que ainda está no fundo do mar.
Evidente que os 29 partidos poderão fazer coligações em torno de ideias comuns, mas, na realidade, as coligações nada têm de ideológicas e sim de eleitorais, de acordo com cada Estado ou município.
Fala-se em reforma política há bastante tempo. No fundo, o que a classe profissional dedicada ao setor pretende é uma arrumação partidária, aumentando o número de vagas nos Legislativos e de possibilidades na hora das nomeações para os diversos cargos públicos de primeiro e segundo escalão.
Para efeito prático, desde os tempos do Império, a divisão política ficava no conservadorismo e no liberalismo. Em outros países continua esta divisão básica e suficiente. Nos tempos da ditadura, os militares criaram dois partidos e, pensando bem, houve até algumas surpresas, com a vitória da oposição (MDB) em diversas regiões eleitorais.
Agora uma constatação: se, nos tempos de chumbo, em vez de dois partidos tivéssemos 29, certamente ainda estaríamos mergulhados na ditadura. O lugar-comum garante que é bom dividir para reinar.
Como não sou filiado nem admirador de nenhum dos 28 partidos existentes, não sinto o menor entusiasmo pelo 29º que está sendo criado, gostaria que a reforma política criasse mais um, o 30º, o partido do eu-sozinho, do qual eu seria fundador, presidente e beneficiário. Apoiaria as grandes causas nacionais, sobretudo as minhas.
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