domingo, setembro 18, 2011

Vai ficar mais caro - REVISTA VEJA


Vai ficar mais caro 
REVISTA VEJA

O governo retoma o protecionismo e eleva imposto para conter a invasão de carros importados, mas deixa de fora estímulos para a competitividade interna

ANA LUIZA DALTRO E ÉRICO OYAMA


Com o discurso de, mais uma vez, proteger o interesse nacional, o governo decidiu elevar o .. preço de carros e caminhões importados. Num país que tem uma das maiores cargas tributárias do mundo - quase 40% de tudo o que é produzido por cidadãos e empresas vai parar nos cofres públicos -, as autoridades optaram por reduzir as escolhas do consumidor, em vez de estimular a economia local. O aumento será de 30 pontos porcentuais no imposto sobre produtos industrializados de veículos produzidos no exterior ou que sejam montados no Brasil mas não atendam a critérios mínimos de conteúdo nacional. Estima-se que haverá um impacto de 25% a 28% no preço final (entenda como peará no quadro da pág. ao lado).

"O Brasil sofre assédio da indústria mundial. Nosso consumo vem crescendo e esse aumento tem sido preenchido por importações. Corremos o risco de exportar empregos", disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega. O que ele não disse é que as causas fundamentais da falta de competitividade da indústria brasileira - e, consequentemente, da citada exportação de empregos - permanecem em segundo lugar no plano de ações do governo: carga tributária complexa, ambiente de negócios burocrático e infraestrutura deficiente. Para João Carlos Rodrigues, diretor da consultoria especializada JATO Dynamics, aumentar o IPI sobre os carros importados não operará milagres na indústria nacional.

O aumento do nível de emprego e da renda nos últimos anos pôs o Brasil na rota das montadoras. O mercado nacional automotivo tornou-se o quinto maior do mundo, atrás apenas das potencias China, Estados Unidos, Japão e Alemanha; Para atenderem a salto na demanda, as importações de veículos dispararam, acompanhando as vendas da indústria nacional. Explica Stephan Keese, sócio da consultoria Roland Berger: "O Brasil se tornou um mercado muito atraente. Mas os custos de produção são muito elevados e acabam estimulando a importação". Foram vendidos neste ano, até agosto, 531000 automóveis e caminhões estrangeiros - crescimento de 35% em relação a 2010. Hoje, um em cada quatro veículos novos no Brasil é importado. Mas, apesar do discurso do governo de defesa do emprego nacional, mais da metade dos veículos de fora vai escapar do aumento da tributação porque é produzida em países do Mercosul ou no México. O governo alega que acordos bilaterais impedem que esses mercados paguem a sobretaxa. Especialistas afirmam que o Brasil corre o risco de sofrer uma contestação na Organização Mundial do Comércio (OMC), cujas regras estabelecem que o único imposto que pode ser discriminatório - levando em conta a produção nacional e a estrangeira - é o de importação.

O discurso da defesa do interesse nacional é populista e perigoso. Nos anos 90, a abertura da economia brasileira às importações foi acompanhada de previsões catastrofistas de que a indústria nacional iria quebrar. Não só não quebrou como ela se fortaleceu e avançou em competitividade. Mas nem é preciso ir tão longe na memória. No mês passado, o governo já havia lançado um plano de estímulo protecionista para a indústria. Desta vez, as próprias autoridades admitiram que as medidas adotadas tem caráter emergencial e que um novo regime para o setor automotivo, um dos que mais empregam na . economia, tem de ser feito. Tomara que o imediatismo ceda às estratégias de longo prazo.

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