Humor é coisa séria
JOSUÉ GOMES DA SILVA
FOLHA DE SP - 18/09/11
Um intelectual certa vez disse: "Sorria dentro de uma fortaleza e ela desmoronará". Recente episódio ocorrido na Síria, cujo povo está lutando pela democracia, mostra que esse pensamento é verdadeiro.
O chargista Ali Ferzat foi espancado e teve as mãos quebradas em ataque chamado pelos agressores de "advertência". Seu "crime"? Veiculava pela internet mordazes críticas aos ditadores do mundo árabe. Os autores da barbárie temem o que diz o pensamento e conhecem o poder do humor.
Sempre tive fascínio pela capacidade desses artistas em levar-nos a pensar sobre os mais diferentes aspectos da vida. O humor é forma vigorosa de impactar as pessoas, fazendo captar -pelo riso- o que é sério, está errado e precisa ser corrigido. É impressionante a capacidade do criador gráfico que, em reduzido espaço, abre a ferida do momento político, econômico e social.
Uma das primeiras coisas que faço todos os dias é ler os jornais. Mesmo que falte tempo para ler as reportagens, não deixo de ver as charges; é uma forma rápida de obter informação e começar o dia com bom humor. E o Brasil é berço de grandes artistas desse gênero, que têm defendido nossos mais importantes valores.
Desde o século 19, quando nos fizeram rever o ranço social deixado pelo Império, passando pela República e até os dias de hoje, com poucos traços e palavras, seus desenhos denunciam impostores, censuram maus políticos e administradores públicos, ridicularizam o nonsense, mas também aplaudem os positivos feitos da humanidade.
Chargistas e cartunistas são legítimos porta-vozes do sentimento popular. Seus trabalhos são um canal onde o povo se manifesta, demonstrando sua opinião contra ou a favor.
Cartuns e charges sempre enfrentaram adversidades. No início, na Europa, foram rejeitados no universo da arte por desrespeitarem as leis da estética e serem "meros provocadores". Até hoje, seus autores ainda enfrentam agressões físicas e conceituais nos regimes totalitários.
No Brasil, o panorama é totalmente oposto. Chargistas, cartunistas, quadrinistas e caricaturistas brasileiros e de outros 60 países estão reunidos em nova edição do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, no interior paulista. O clima é de plena liberdade criativa, com expressiva integração de artistas e visitantes que vivenciam o "rir é o melhor remédio".
Comparando o ambiente do Salão de Piracicaba com o triste episódio envolvendo o artista sírio Ali Ferzat, cabe a pergunta: até quando vão acontecer atrocidades desse tipo? É preciso garantir a sagrada liberdade de expressão, um direito de todos nós. E se tiver bom humor, ainda melhor!
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